É este o assunto das minhas atuais aulas de Teoria Literária. E como o Italiano comentou que quem é ele pra julgar a poética dos outros (perdoe se não foi esse o sentido de sua frase Italianinho), resolvi comentar aqui a série de atribulações que passam no meu cérebro em relação a este assunto.
Diz-se no texto do Bachelar que o instante poético é algo que vem da união do tempo horizontal (seria aquele próximo da nossa realidade) com o vertical (o eixo do delírio). O vertical teria que se elevar para acontecer o tal instante. Mas a questão vai muito mais afundo que um gráfico. E eu não entendi esse treco aí mesmo...
Por que às vezes lemos uma poesia que pra gente faz tanto sentido e tem tantos instantes poéticos e outras pessoas simplesmente acham a mesma um lixo? Alguns de nós tentam até usar da poesia pra comunicar algo e outros tentam sempre analisá-la a fundo.
Em relação ao instante poético o professor falou que cada um encontra na poesia seu instante, contudo tem certas poesias que são quase unânimes esses instantes, enquanto outras... E depende também do momento em que vc a lê. Muitas vezes não temos paciência nem pra encontrar algo de poético em Fernando Pessoa tamanha a falta de 'time' pra poética.
Pra aqueles, que assim como eu, continuam escrevendo algo naquela tal forma de poema tentando encontrar algum 'instante poético' dentro de si, segue a fuga do trivial pra encontrar na subjetividade munição contra a falta da poética. Quando escrevo algo com ou sem métrica eu só tento comunicar a idéia em uma ordem diferente. A poesia possibilita o fim no começo, o meio no fim... A poesia aceita uma liberdade de expressão embora presa à forma.
Já sobre os analíticos (também posso me incluir neste grupo), o professor falou algo interessante, que ao se tentar entender a poesia que acabou de ler aí já se elimina o entendimento, vc não leu, não houve instante poético, a poesia não exerceu seu papel na consciência do indivíduo. Aí defino como: o instante se dá como se o inexplicável fizesse algum sentido naquelas linhas.
Pode-se abrir um outro parêntes também relacionado com o que li numa revista (creio que tenha sido Super Interessante), que o poeta seja aquele que consiga unir o lado da emoção com a razão. Um exemplo, não é comum quando estamos apaixonados falar 'te amo tanto e não sei nem como expressar tanto amor', aí entra o poeta dizendo o que a pessoa não consegue dizer :D Achei legal isso.
E falando em amor, um último parentêses: quando se diz "te amo tanto e não sei porquê". Claro que tem-se lá alguns motivos óbvios, contudo o 'amo tanto' tantas vezes não se explica, pq se fosse explicável talvez não fosse tanto amor. Esse pensamento também foi da aula de Teo. Lit. ahahah
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Que miscelânia essa post... Começo falando de um coisa, termino com outra. Também, não é redação pra vestibular mesmo :P Se fosse estaria arriscada a tirar 22,5 novamente ¬¬
Ai gente, eu tô pensando tanta coisa. Não consigo organizar isso.
2 comentários:
Era isso mesmo do que eu falava Fabíola. Acho que ninguém tem como realmente avaliar a poética do outro; podemos sim avaliar a técnica (uso da língua, métrica na poesia, domínio de recursos literários, coisas assim).
Sabe o que esse papo de gráfico me lembra? Me lembra aquele texto que o Robin Williams manda os alunos arrancarem dos livros no "Sociedade dos poetas mortos". O tal texto existe mesmo e na prática trata daquilo que escrevi no parágrafo acima: em um eixo avaliaríamos a qualidade do tema do artista (a poética que não se pode avaliar) e no outro o seu domínio das técnicas. Aí vem todo o discurso de que Shakespeare teria uma grande área pois se sairia bem nos dois quesitos, Byron uma área reduzida pois se sairia bem apenas na ténica e gente como músicos pop que certas vezes tratam bem de temas importantes mas com uma qualidade discutível.
Claro que é impossível não fazer uma avaliação: deixando de lado a técnica, eu não vejo, por exemplo, como não identificar em Shakespeare temas melhores e mais profundos, mais humanos que as letras de uma música de axé. Seria um preconceito meu? Isso é muito complicado de avaliar, até porque se eu dissesse que não estaria negando meus próprios gostos e valores. É aquela velha história de ter a própria opinião respeitando a dos outros: naquele tal gráfico cada um teria seu próprio valor na escala do "tema". O que também não significa que em Shakespeare não seja necessariamente um dos melhores: não podemos, em nome do "politicamente correto", jogar Shakespeare e Mané Washington (é assim?) no mesmo saco. Me chamem de preconceituoso, mas me nego a aceitar isso.
Quanto à parte técnica (o significante que também é importante, te lembra algo?), as coisas são um pouco diferente. Podemos partir de pressupostos diferentes, mas uma métrica endecassílaba clássica ou é correta ou não é. Ainda há uma dose de subjetividade (em que não há?), mas a gama possível é mais estreita, mais uniforme.
Ou não. :P
E falando nisso, esse teu professor e aquela que dava mais valor ao significado que ao significante me deixam com a impressão de que a UFRJ anda muito parada no tempo, muito fazendo papel de ingênua ao querer se distinguir. Um pouco como em outros lugares...
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