sexta-feira, 17 de maio de 2013

Prazer

Na sexta-feira passada, como havia de ser, fui ver a peça no CCBB baseada na obra de Clarice Lispector chamada Prazer. Fui só, como haveria de ser. Fui saltitante, esperando algo grande. Fui esperançosa de me tirar aquela fadiga rancorosa.

Chegando lá, vendi o outro convite que tinha, just in case alguém comigo iria ver a peça como haveria de ser. Vendi para uma moça desconfiada, que dizia não gostar de Clarice, mas ainda assim ouviu o que eu disse sobre a talvez interessante peça e decidiu que iria vê-la.

Chegando lá dentro, meu lugar era perto. No palco, 3 homens e 1 mulher no centro: escreviam frases e citações de Clarice. Fiquei a espionar, a mulher chegou do meu lado a sentar... Deu uma apreensão: vai que o programa não fosse bom?!

No entanto a peça foi linda: no início meio confusa, meio turva. Falavam de uma herança imaterial: coisas boas que um tal falecido tinha deixado anotado para que os outros fizessem ou tentassem. Falavam coisas bonitas, pôr-de-sois e peripécias da vida.

Mas o tom da peça foi mudando... Eu fui mudando junto. Comecei a gostar daquele profundo que foi se amostrando. Um abismo abriu-se no palco: cada amigo tinha um conflito. O conflito do espectador estava um pouco em cada um deles. Comecei a sentir o mundo girando por dentro, as frases como redemoinhos dentro da mente aleatória e sucumbi a mais profunda reflexão de meu ser.

Coisas marcantes: trataram da desautomatização da vida, que é algo que está presente sempre aqui e que tento definir e defender sempre que posso; tocaram "Viva La Vida" do Coldplay no final, e isso gerou um eco de emoções dentro de mim; por último, chorei pela primeira vez numa peça.


Saí de lá rindo, fui em direção as barcas sem saber se tomaria de certo as barcas. Estava com uma saia comprida preta e uma blusa branca de bolinhas roxas. Sei que chegando na praça XV comecei a ver umas pessoas correndo e comecei a correr junto... Logo me dei conta que eu deveria mesmo correr junto para não perder a barca das 21h. Mas eu corria porque era bom correr ali, como correndo do bege que nos confronta junto com o cinza. Corri e ri. Ria e os outros olhavam. De repente minha saia (que se encontrava na altura da linha da cintura),  começou a descer... Eu continuei correndo como criança, apostando corrida comigo mesma. Esbaforida, chegando na catraca, me dei conta que o cartão de passagem estava num sei lá aonde bem misterioso dentro da bolsa gigante. Parei abruptamente, fazendo aqueles atrás de mim também parar, procurei por uns segundos o cartão, temendo que a catraca se fechasse... ACHEI! Rindo sem parar da cena toda, passei pela catraca, o segurança me olhava, corri em direção da barca: era a antiga. Adentrei o recinto, parei em algum lugar entre lá e aqui. Fiquei no meio, contemplando aquele mar de gente. Fiquei em pé. No meio da travessia olhei para fora, olhei para a ponto Rio-Niterói alaranjada lá no fundo. Em pensar que semanas antes passava por debaixo dela num sentimento de ser a pessoa mais feliz do mundo. Ensaiei uma tristeza e logo reparei que chegava em Niterói: iria para casa, finalmente, iria descansar, finalmente... Estava esgotada, não conseguia parar com meus olhos abertos. Iria aguardar sábado chegar com toda sua inexatidão e aleatoriedade. Iria fechar os olhos, enfim.



Prazer fica em cartaz no CCBB ate 02/06, 19h.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Das brigas

Uma escola com muitos jovens e crianças em ebulição, obviamente, terá muitas discussões, brigas e afins. Tenho ainda o orgulho de apresentar uma marca recode praticamente de não-briga com os alunos (de mim para eles). Em compensação, entre eles o couro come.

Ano passado, quando lecionava numa sexta-feira a tarde, quase toda bendita sexta tinha uma briga literalmente na porta da minha classe nos dois  últimos tempos.Acho que já marcavam "vamos brigar ali na frente da aula de inglês da professora que menos briga com alunos... a antítese no apetece". Claro que não era de propósito, mas a repetição me fadigava um pouco.

Os alunos que brigam são, essencialmente, os mesmos. Pode mudar o teor da briga mas os brigadores... Por exemplo, na turma dos pequenos tem sempre o João (com seus bright green eyes) que briga com Vinícius. Tem o Rodrigo que briga com todo mundo. Tem o Joseph, todos brigam com ele. Os pequenos rolam do chão, logo estão de bem, se abraçando loucamente, como melhores amigos da vida.

Já nos maiores as coisas são mais complexas. A briga é uma forma de mostrar que se tem poder e é o maioral, além da aceitação do grupo. A briga é algo gerado por uma histórias de pequenos enfrentamento entre os contestadores e quando sai... Não há santo que separe! Dias depois todos voltam a ser amigos, mas o processo de exclusão do mais fraco é bem cruel.

Hoje mesmo presenciei uma briga na 1401 por minha causa, olhe o despautério! Os alunos desciam para o recreio quando o Ronald, por tropeçar no Hiago, esbarrou nas minhas coisas. Hiago, nada fácil, começou a esbravejar com Ronald por ele ter esbarrado "nas coisas da professora". Estava eu desligando o computador, o datashow e de repente, lá na porta da sala (como eles gostam de brigar na porta da sala!), era uma verdadeira BRIGA. Os dois se enrolando no chão, e eu pedindo para separem. Mas os meninos são covardes, não separam... Os rapazes da 1701 (no corredor atiçados pelo "briga, briga" dos menores), foram os que conseguiram me salvar daquela situação. Digo "me salvar" porque não me apetece os dois se esbofeteando. Peguei Ronald, arrastei para dentro da sala enquanto os outros desciam. Ele ficou lá comigo, me ajudou a guardar as tecnologias e carregar meu material. Perguntei o porquê e pedi para me prometer que não brigasse no recreio (porque os coleguinhas iriam atiçar o confronto). Ele prometeu e cumpriu. Boto fé no Ronald, apesar de sentir que as coisas não são nada fáceis pra ele.

Poderia passar a tarde aqui narrando as homéricas brigas entre Glaucodenis e Rickelme, ou do o agora ex-aluno da escola, Wellington com muitos outros garotos. A questão é que a temática se repete em si. Os nomes é que criativamente mudam. Por isso que acredito piamente que como professora tenho de oferecer algo diferente: amor. Não brigo, não discuto, só peço e aconselho. Com isso eles sentem realmente que podem me escutar na hora que peço para que  não briguem mais. Apenas creio. Pieguice não vai salvar o mundo, mas ajudar nessa batalha de pequenos titãs.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Feito gente grande (Du vent dans mes mollets)


Feito gente grande. Um filme sobre uma garota introspectiva e seus pais tentando fazê-la se abrir com eles e com o mundo. O tempo inteiro um desafio entender aquela garota, mas ao mesmo tempo, um enigma facilmente decifrável para sua melhor amiga. Dei boas risadas, gargalhei com vontade das peripécias infantis. Confesso que me identifiquei com boa parte das coisas. A diferença é que nunca “precisei” de uma amiga para me sentir feliz como a pequena do filme.


Ri como nunca e ao final, sem misericórdia, chorei... Chorei como uma criança. Chorei porque me restou uma tristeza aqui dentro. Aquela tristeza de que as relações poderiam ser muito mais profundas do que são. Que poderíamos ser mais como as crianças, nos doar, necessitar da melhor amiga como se fosse uma falta tremenda de oxigênio, criar amores platônicos como quem abre uma caixa de doces. Mas não somos assim, somos adultos demais. Temos de respeitar o nosso sentimento (seja lá o que isso signifique) e os dos outros (seja lá o que isso signifique). Temos de manter distancia saudável, fingir indiferença, não sucumbir as palavras bonitas, pois onde há elogios deverá haver a dúvida.
Temos de viver em dúvida. Viver como adultos com dúvida. Viver tristes como adultos com dúvida. A dúvida é que faz a gente levantar pela manhã. Ou seria a dúvida que nos faz não querer levantar pela manhã? Isso vai depender do temperamento da pessoa, creio eu. O ponto é: temos de corroer nossa alma porque não podemos manter a clareza de infância e sentir/falar/agir com coerência?
Saí daquela sala de cinema aos prantos, pensando tudo isso, e mais nas minhas peripécias de infância, que não  foram poucas, podem apostar. Ainda não tenho coragem de falar abertamente sobre isso. Ao saí me deparei com as pessoas da sala de cinema ao lado saindo junto. Tinham assistido homem de ferro III. Eram muitas, uma horda de gente, como gado se espremendo no corredor. Eu fui a primeira a sair do filme francês, timidamente, com meus olhos ainda um pouco marejados, olhando para os lados, aquela bagunça toda, aquelas meninas com decotes impossíveis, todos os rapazes vestidos iguais, todos naquele sábado procurando diversão. Eu procurando o choro, a minha infância e entender o ser humano.
Ao procurar a saída, dentro de um shopping é quase impossível não observar o escravo silêncio dos vendedores. Muitos sozinhos. Alguns em grupo. Todos em pé e calados. Olhavam atentos para o nada. Dentro de si não havia nada. Umas com muita maquiagem, outras com o vestido da coleção, todos parecendo ridículos e inúteis. Todos pensando que poderiam estar vendo o Homem de Ferro III ou simplesmente assistindo qualquer coisa na TV em casa. Mas não estavam, estavam trabalhando. Trabalhando porque precisam do dinheiro para pagar as contas de casa e, é claro, ir assistir ao Homem de Ferro III. Ninguém quer ir ao cinema para chorar. Ninguém.
Eu sou tão ninguém nisso tudo. Um invisível que salta aos olhos: “ela está sozinha”, “ela lê alguma coisa, o que é aquilo? Um livro?”. Ela salta aos olhos. E tem olhar certo, fixo, sem titubeio. Ela perscruta todos ao ser redor: ahh, o vazio! Os papos mais desperdiçados. Todos na luz branca que apazigua o vazio de tudo. O limbo espiritual. Estar numa margem de rio sem água, pensando que aquele rio é o mais fresco do mundo. Enquanto isso, um dilúvio na minha cabeça, de pensamentos, de imagens, de sons, cores. As cores são quase incontroláveis. Ver as pessoas em cores, os acontecimentos em cores, a vida em cores... Isso custa um pouco! Mas meu olhar continua ao redor de tudo, duvidando um tanto do espetáculo cruel que nos colocam.
Ninguém quer chorar, ninguém quer ler. No entanto, também não queremos rir:  aquele sentimento de felicidade plena que vem da alma, e quando vai, nos deixa nostálgicos. Nostalgia dói.  Queremos rir das peripécias do homem de ferro. Das brincadeirinhas previsíveis. Quando a pequena do filme vai contar a história da professora com o professor de educação física e resolvem fazer um teatrinho com as barbies, vem uma risada, uma vontade de rir do absurdo, de como  nós mesmo já fomos assim: imaginativos e absurdos. A menina do filme adorava fazer teatro com as bonecas. Eu também gostava. Fazia com tudo, com os objetos da penteadeira da minha mãe tinha um grupo de teatro. Tinha história de tudo, e, é claro, sempre tinha um drama. E essas conexões, filme-eu, são o que geram as melhores risadas e o mais límpido dos choros.
O choro nos impõe sair da inércia, fazer a cabeça sacudir daquelas pipocas e vitrines e despertar para a não necessidade de comprar coisas que não precisamos. Ser sensível nesses filmes é a catarse que preciso para concentrar uma idéia, concentrar no que é real. Facilmente confundo a realidade das coisas não reais. Facilmente sinto que posso fazer algo que na verdade não posso. Desde pequena, quando me vejo em momentos que acho que podem ser criações de meu mundo solipsista, simplesmente abro as mãos, com as palmas viradas para baixo, olho, sinto elas se esticarem: é real. Quando está acontecendo algo muito ruim, ou algo muito bom, sempre faço isso, abro as mãos, estico, e sei que aquilo realmente está acontecendo. Coisa de criança.
Tenho muitas dúvidas sobre a idade que deveria ter, sobre a idade que daria ao meu coração. Acho deveria ter mesmo 27, só que meu coração tem 87. É rabugento, indomável e mal acostumado. Ao mesmo tempo, tem compaixão, entende os problemas de todos como se ele mesmo estivesse passado por tudo aquilo. Adulta ou criança, um pouquinho das duas coisas, o que eu gostaria MESMO era o despertar sereno pras coisas mais importantes, Les petites choses. Mas eu mesma venho dormindo bastante.
Creio que esse texto todo seja para lembrar a mim mesma que posso ser melhor, que posso tentar despertar eu mesma da minha embriaguez e tentar enxergar as coisas do jeito que elas são e, principalmente, do jeito que elas não são. Só as coisas não sendo para serem mais do que nunca, como se tivessem realmente sido. Eu quero ser, eu escolho ser. Ser grande ou pequena, não importa, eu quero ser e no processo de ser sendo,
lembrar a todos que amo (porque quem É, ama acima de tudo) que todos nós Somos. 


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Era uma vez um dia...

Em que o roxo virou cinza.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Das danças, das brigas

Hoje foi um dia produtivo na escola. Acho que não contei aqui: trabalho numa escola pública no município do Rio de Janeiro. Sou professora de inglês. Tento ser uma boa professora de inglês. Tento mesmo.

São diversos pequenos problemas num universo complexo escolar. Há anos venho discutindo nesse blog minha vida lilás de estudante universitário fahlida. Agora sou uma professora nada universitária querida. Querida pelos alunos, óbvio. Eles têm muito amor. E eu tento retribuir com sorrisos e abraços.

Ensino inglês desde o primeiro ano (criancinhas de 6 aninhos) até os do sétimo ano (adolescentes por volta de 13, 14 anos ou um pouquinho mais). Desde o ano passado faço parte da vida dessas crianças e elas da minha. Uma troca muito justa de conhecimento, dedicação e amor. Piegas, pode até parecer, mas é o que segura um ambiente banho de bullying, xingamentos, afrontamentos e desafios.

Quando entrei em Letras não tinha muita noção das coisas, mas sabia que:
1) Queria trabalhar com literatura
2) Trabalhar em escolas públicas por um tempo

Quando pensei essa coisa toda de escola pública morava no Sul do país, teoricamente muito mais tranquilo que dar aulas em escolas cercadas por morros cariocas. No final, não vejo mais por "fácil" ou "difícil", mas simplesmente me adaptei ao meu contexto e estou feliz com ele.

E o que tem dançar com tudo isso? Hoje dancei com as crianças todas no pátio. Uns do ginásio se juntaram, e eu lá no meio, ajudando as professoras regentes, tentando fazer com que as crianças pegassem os passos dos dias da mãe criados por dois alunos do 8º ano (que também foram meus alunos), ao som de Claudinho e Bochecha com o "fico assim sem você". O engraçado é que me dei conta que indo para meu segundo ano na escola eu conhecia e tinha boa relação com praticamente TODOS os alunos do pátio. TODOS tinham sido ou eram meus alunos. Foram juntando mais gente, mais gente... mais gente... E mais alunos. No final, vinham de dar "good bye" ou um abraço. E eu ia retribuindo a todos.

Dancei com os alunos, me senti parte daquela escola por completo. Vi claramente que um ano de trabalho árduo tentando incutir o inglês naqueles alunos não foi em vao.
Das brigas, falo depois...

segunda-feira, 6 de maio de 2013

a poem

Inspirada pelo aniversário de Lív Mary, publicarei um poema que achei de mais de 5 anos atrás!!! Raridade nessa vida. Fiz umas adaptações pra ficar melhor (pq estava MUITO ruim). A questão fui só brincar com as palavras depois de uma aula de literatura depois da faculdade (que falava sobre amor) e eu tinha descoberto, naquele instante que eu não sabia nada sobre o tema. Então resolvi "exercitar" fazendo o seguinte poeminha tosco:

All feel so right
Time feel so wrong
Am I gonna pay
For those arms I belong?

I don´t have to say
Why am I so distante?
Maybe because that day
I couldn´t have been kissed

And we live in sin
For the unsolved heart
I really wanted to feel
The care of your arms

Now the ice is around
And your word I can´t hear
All I want is the sound
Of your French in my ears

___

Lembrei que fiz esses versos depois de uma aula sobre "Um sonho de uma noite de verão". Com todas aquelas confusions acontecendo na peça me inspirou isso. A única coisa que mudei foi o "French", antes era "love". O resto é resto, tinha mudado mais, mas mudando muito perde o sentido (afinal, pouco lembro da peça)! Direito das aulas do Beiçola, versos perdidos dentro do caderno!

Final de semana sem internet rende lembranças :)

6 de maio

Como não gostar do dia que nasceu sua melhor amiga? Como não gostar do dia da pessoa que te faz pensar? Como não lembrar do dia da pessoas que desautimatiza por onde passa?

Agora com essa nova fase de francês, é uma honra fazer francês com  Lív Mary. Um dos melhores acontecimentos do ano. Um de repente que deu muito certo. Toda sexta é mais feliz. Toda sexta, je t´aime!

Com poucas ou muitas palavras  o sentimento é sempre o mesmo: uma ternura sem tamanho que invade aqui dentro e me faz bem e feliz em saber que posso contar com Lívia.

Je t´aime, ma cheri!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Volta pra casa... quinze dias!

Mamae volta pra casa. Foram quinze dias. Quinze longos dias. Quinze dias sem o barulho, os telefonemas, o sorriso. Todos ficaram um pouco murchos aqui em casa. Todos se sentiram como planta sem fotossíntese. Fiquei amarelada de saudade, seca nas pontas. Mamae voltou, e com ela todo o verde j'a se configura: ela agita a casa, faz suas conjecturas, traz suas historias e ri zombeteiramente de tudo um pouco.
Essa mulher e mesmo imprescindível! E esses quinze dias serviram para que claramente sentisse como a casa envelhece e se retorce no esquecimento sem mamae por perto.