quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Peguei o ônibus errado

Hoje peguei o ônibus errado indo para Niterói. Na hora da baldeação tive a capacidade de correr e correr atrás do ônibus que achava ser o 62.  Atrás vinha o 61, que certamente me supriria: deixaria perto do curso, só teria de andar um pouquinho mais. No entanto, corri atrás do ônibus que me deixava pra trás, pequei o 22. O sentimento de vê-lo virar pro lado “errado” não era pior do que o sentimento de que tem algo de muito errado. Por que peguei o errado? Por que tem de ir pra aquele lado? Por que tamanha distração?

Não me custa muito responder essas perguntas. Na verdade, a viagem de ida a Niterói já foi um profundo brainstorm de questões. Estou com 28 anos e continuo pegando o ônibus errado. Continuo achando que “basta ser do jeito que sou” que tudo vai ficar beautiful no final da história. Baita equívoco: a gente tem de deixar de ser e navegar um pouco nas águas da flexibilidade. Deixar de correr atrás do que acharia que poderia ser, porque, na verdade, a chance de ser o ônibus  errado é muito maior se estamos no calor da hora e no atraso do tempo.

Sinto-me profundamente atrasada no tempo. Tenho 28 anos. Vinte e oito. Dia desse era vinte. Dia desse era 8 anos atrás. Sinto que tenho de me mexer, que tenho de correr. Mas e se eu pegar o ônibus errado de novo na afobação disso tudo? Creio que isso que esperam: que eu corra, me arrisque pegando o ônibus errado e que depois dê meu jeito mágico pra contornar tudo. Daí que hoje, já me lamentava que teria de andar muito pra pegar o ônibus certo, quando me deu um estalo: não é pra eu ir em frente, é pra ir pro outro lado, andarei menos, embora pegue o ônibus cheio. Foi o que fiz, dei a volta, esperei todos os sinais abrirem e fecharem e andei pra trás.

Voltando pra trás me dei conta que era isso com as questões. Não que eu tivesse de deixar de Ser, de deixar de chegar lá, ao meu destino. Simplesmente tinha de procurar um caminho que não fosse tão tortuoso, porque se o ônibus já está errado não adiantaria mesmo chorar sobre o leite derramado. Agora quero voltar, quero compreender, quero engolir seco o que eu acredito para sentar na mesa e dialogar: dialogar comigo, com os outros, com a minha mania de achar que já estou dialogando por simplesmente existir.

Peguei o ônibus errado. Mas vou chegar onde eu deveria ir.