sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Do deboche ao desdém: na diacronia da vida de uma trabalhadora de Letras

Sinto dizer: sua profissão não te qualifica como profissional de alguma coisa. Ser professor? Faça-me o favor! Get a life! Melhor, get a job!

Tudo começou em 2003, sentindo-me estrangulada com aquela historia de fazer contabilidade, decidi que tinha de achar o que AMASSE fazer. Aquilo que me recompensaria como ser humano, como ser pensante, como SER sendo deste mundo vulgar. Em fevereiro de 2014 um aluno se esforça, no seu inglês macarrônico, em explicar que o "professor" do curto texto que leu em inglês não era igual mim. Pensei eu que isso se daria porque, na verdade, ele quisesse dizer que o "professor" do texto era um pesquisador. O que realmente ele quis dizer: eu era uma estagiaria, não era? Quanto você ganha? Então, não pode ser igual, não eh?

Confuso, confuso. Em novembro de 2007 o meu primeiro relacionamento acabaria. Eu ainda não sabia. Mas acabaria. Juntamente com o trabalho entregue de fonética, o qual me dediquei fielmente esquecendo que existia namorado no mundo. Em setembro de 2008 tinha decidido: voltaria ao Brasil, terminaria o ultimo semestre da faculdade, terminaria também o namoro/noivado. Sentia tanta falta  de estudar. Larguei o Canada e suas varias formas de cidadania que naquela época me oferecia. Quanto eu ganho hoje? Realmente precisamos falar sobre isso? Ganho menos a hora aula do que ganhava fazendo companhia a uma velhinha, Minnie. Ela me adorava tanto que no dia 25 de dezembro ela preferia passar o natal comigo do que com o filho. Aquele era o dia mais esperado no ano por ela, pois era o único dia que passava com o filho.

Abril de 2009, da minha geração de amigos da faculdade sou a unica totalmente estagiaria: tanto na Cultura Inglesa, quanto no CLAC. Nao me importava com o quanto ganhava, me importava com a experiencia e o quanto isso  realmente me renderia no futuro. Fevereiro de 2014, trabalho como professora de inglês na prefeitura do Rio de Janeiro. Trabalho dando aulas particulares. Enfrento questionamentos nos dois segmentos por não poder abarcar no meu horários todos os alunos que o gostariam.

Fevereiro de 2004, começo a faculdade de Letras na Universidade Federal do Rio Grande - Sinto-me orgulhosa por ter passado com brecha em dois vestibulares de faculdade publica, sinto-me exultante por conhecer pessoas novas que tudo tem a ver com a minha personalidade curiosa. Junho de 2003, decido que farei Letras. Decido que farei Letras e darei aulas em escolas publicas, porque devo, acima de tudo, pagar minha divida social por estudar (futuramente) em uma universidade publica. Penso que sera difícil, mas que esse não pode deixar de ser meu objetivo. Outubro de 2011, sou obrigada a tomar posse imediatamente como Professora II de inglês no município do Rio de Janeiro.

Dezembro de 2007, passagens compradas: vou ao Canada. Nao sabia ainda que passaria o ano neste pais. Dezembro de 2013, planejo a festa de 10 Anos da Bolha Social (da turma da UFRJ). Dezembro de 2004, me despeço das Reles Patuleia, a turma da FURG. Sinto que eh tempo de mudança, maktub, nem me esforço muito para mudar o destino.

Maio de 2002, aluna exemplar da Escola Técnica de Comercio de Sao Francisco do Sul. Descubro que terei de me mudar para Rio Grande - RS. Professores lamentam que a interrupção nos estudos: seria uma excelente contadora, seria uma irresponsabilidade familiar me tirar dali. Junho de 2012, faco uma prova para trabalhar em um novo curso de inglês para crianças em Niterói. A coordenadora se admira: tirei a segunda melhor nota ate aquele momento. Eu me admiro, mas lembro do quanto me esforcei no tempo de estagiaria para chegar ate ali.

Cursos de inglês quebrados. Disciplina. CAE, CELTA. Simpatia. Paciência. Amor. Psicologia. O que não leva essa receita de ser professora em 2014? Certamente não começou em 2014. E nem por aqui termina.

Poderia ser enredo de Carnaval. Poderia ser letra de um samba triste -  perdi tudo, ganhei muito mais: minha dignidade persiste.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

adote um bandido

Sheherazade falou pra quem quis escutar: adote um bandido. Vc adotou o seu?

Usa palavras como "marginalzinho", ela adota uma posição um tanto quanto questionável. Nao eh nem sobre achar SUPER legal amarrar um ser viver a um poste. Nem disso que falo. Mas achar que toda serie de crimes e barbáries nas nossas cidades serão resolvidos por um grupo de justiceiros. Justiceiros pautados pelos mesmos princípios do dela que jogam aquele "marginalzinho" contra uma grande parede social restando uma realidade coagida e cruel.

Houvi alguns dizerem esses dias "mas o pobre tem escolha". Creio que classe media desse pais esta se tornando pior que os ricos da mesma. Afinal, quando seu filho aparece drogado: tadinho, vitima das pressões. Quando se dopa em anti-depressivos sem prescrição medica: pobre pessoa, tem muitos problemas na vida. Tem teto, tem infra-estrutura básica, mas justifica-se a ação dos seus pares facilmente.

Sabe, Sheherazade, eu adotei meu bandido. Leciono em escola publica e já lidei com casos extremos de desistência de alunos para a  "bandidagem". Sabe o que eu faco? Tento ver melhores maneiras de cativar esse jovem, perco minhas noites de sonho montando estratagemas.

Acho que pelo deboche de "essas pessoas dos direitos humanos", deveria mesmo era estimular a ruindade desse aluno, chama-lo de animal, faze-lo se sentir bem baixo e vil, estimular o ódio sem sentido pelo próximo, pois ele não possui nada: eh um diabo sem rumo na vida. Ops, já tem quem faca isso: gente como vc. E vc realmente não sabe pq ele fugiu daquele hospital, neh?