sexta-feira, 11 de março de 2011

Águas de março

Na bossa nova da vida nos encontramos no mês de março. O mês da chuva mansa, da chuva perene, da chuva insistente. A chuva por aqui é constante e chega com o sol. O sol vem, vem a chuva junto. O sol vai, a chuva continua, sem seguir seu companheiro do dia.
A chuva de março já foi imortalizada na música e na TV pelos desastres ano apos ano. As águas de março estão pra sempre se renovando a cada ano dentro de nosso dia-a-dia, como uma data festiva que todo ano acontece.
Espero eu que essas águas me tragam serenidade e que leve consigo todo rancor, a falta de esperança, o pessimismo. Deixe comigo só a serenidade, de nada mais preciso. Preciso só disso: serenidade e meia dúzia de amigos.

E assim vou fechando o verao.

terça-feira, 8 de março de 2011

O carnaval da alma


Tem tempos que a alma pede por uma festa própria. A alma pede desfile das últimas reflexões, votação da melhor metáfora e o bloco das decisões por tomar faz seu caminho pelas ruas abandonadas pelo desgosto escondido. È tempo de pular o carnaval de si próprio, com a batida melódica do tamborim monossilábico e o choro da cuíca ao fundo. Um carnaval com o melhor matiz cinza, mistura inconfundível de preto e branco, aa cores dessa escola de samba.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Adele - Someone Like You (on 'Later Live with Jools Holland') - Nov 2010

Essa mulher drives me crazy. Esse sim 'e exemplo de desautomatiza'cao da vida.


sábado, 5 de março de 2011

Capítulo II - God save the Queen... and the CELTA course

O nublado de Londres me apetece a alma. O inverno londrino, em toda sua rispidez e frieza, me acolheu em seu seio e me fez olhar para a diversidade de Londres de uma maneira saudosa. O ar blasé das pessoas no metro, Oxford Street, milhares de turistas, os museus gigantescos, os londrinos com as mais diversas ascendências, o café da manha típico que mais parece um almoço, o jeito rock n roll de ser, as vitrines on sale. Tudo isso num misto de cinza com azul escuro que foi incrustrado em minha alma.

Sempre pensei que um lugar cheio de diversidade étnica, com a exceção sendo a regra, com cultura transbordando por todos os cantos, com uma história fascinante, com pessoas gentis, mas não intrometidas na sua vida. Com um quê de acolhedora e um alfabeto inteiro de cosmopolita. Encontrei esse lugar, é Londres sim senhor. Desde o primeiro dia no metrô nos apaixonamos mutuamente... Londres e eu.

Com o começo do curso (CELTA course), comecei a viver uma rotina. Acordar, preparar as coisas, pegar o metrô, chegar em Bond Street, trocar para Central line, ir pra Holborn station, subir as escadas rolantes eternas, andando do lado esquerdo bem rápida, como se precisasse tirar o pai da forca. Chegar na superfície, andar umas quadras até a escola. Chegar lá, subir mais escadas até o quarto andar. Ou, de vez em quando ir para o quinto andar e receber alguma orientação sobre o plano de aula. Começar a aula com o Darren e seu jeito peculiar de ser seco e objetivo. Em seguida, uma pausa de 10 minutos para comer algo, imprimir algo, subir e descer escadas, ligar pra casa, pra quem se gosta pra sentir o conforto da voz e partir parar próxima aula com o professor que parece o Hugh Grant, só que mais alto e magro, sem dúvida. Aula terminar 15h e ter até 16h para terminar de preparar a aula de 16h (lesson plan, material pra distribuir, placa do tempo comigo (número 5), canetas com Craig (número 3), e os outros números (Alisson, Seema e Elisa) a dar qualquer suporte necessário, pegando sempre a lista de chamada lá embaixo, testando USB Keys, dando o suporte psicológico um para o outro. Terminada a aula, hora de comentar o que deu certo primeiro com os comentários dos colegas, depois o que deu errado com os comentários do tutor. Ir embora pensando nas milhões de coisas para o próximo dia. Andar até Holborn até Bond Street onde troco para Jubilee line e, finalmente, Willesden Green. Lar, doce lar, e talvez antes passar no mercado para comprar a comida pronta, colocar no microondas e ir para frente do computador preparar trabalhos, planos de aulas, etc, etc, etc.

Foi só um mês disso. Um mês tão intenso que ao terminar parecia que tinha se passado um semestre inteiro. Um mês com uma turma adorável, com pessoas de personalidades peculiares, mas todos muito gentis. E como dizem, gentileza gera gentileza. Não poderia dar em outra coisa, os últimos dias de aula resultaram em certo sofrimento, pois em pouco tempo cada um iria para seu canto, uns iriam casar, outros iriam pra china, ou pra Turquia ou pra realidade que ainda não tinham encarado de ter de procurar emprego em breve. Todos procurando um novo rumo na vida, jovens ou não tão jovens assim.

Fiquemos por aqui... em outros posts, mais sobre a turma CELTA 5.

Assim seja.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Capítulo I: A via crucis do corpo

O título desse post evoca uma obra de Clarice Lispector. Mas não é esse o assunto daqui. Aqui teremos um assunto atemporal que se agravou demais nas férias, com todos os conflitos e julgamentos próprios do assunto. Aproprio-me do bendito título para dar meu testemunho sobre a questão da perda e (principalmente) ganho de peso desses últimos meses.

(o post será longo, mas eventualmente poderá valer a pena, principalmente para aqueles que lutam com sua imagem no espelho.)

Quando menor (e maior tb) nunca pensei muito nessa questão de peso. Ser gordinha ou não, pouco me importava. Mas papai já me alertara tempos atrás, na minha quinta série (hj em dia sexta série), que eu sofreria se não perdesse peso. Aquele dito, sem dúvida, foi o primeiro que ecoou na minha mente e me fez refletir que talvez em algum momento minha vaidade limitada tivesse de olhar para esse assunto.

Na sétima série, ocorreu um milagre: emagreci. Não sei o quanto, mas foi o suficiente para que nas férias de final de ano no Rio os parentes se preocupassem que talvez alguma doença do corpo ou da alma tivesse tomado conta de mim. De fato, meus amigos, algo tinha se dado dentro de mim: tinha cansado de ser tratada como a gordinha da turma. Isto porque eu nem gordinha era! Mas em comparação com as outras ditas esbeltas era eu fruto de comparação como exemplo de quem tinha mais quilo do que o necessário. Silenciosamente, passei a comer menos. Um ano de silenciosa revolta resultou num final de ano infeliz, com pessoas me condenando mais do que gostando da minha mudança na aparência. Minha mãe foi muito julgada como desleixada e por isso resolveu agir, fazendo manjares dos deuses com regularidade. Logo, estava eu encorpando novamente.

Mais de 10 anos me separam daquele tempo (oh, a idade pesa sobre meus ombros). Agora a luta é outra: a luta é pela saúde, por um estilo de vida saudável. Na minha família é muito comum morte por problemas no coração, de ambos os lados, além da famosa pressão alta, colesterol, triglicerídeos, etc. Após a última internação repentina de meu pai, resolvi que daqui pra frente tudo vai ser diferente (como diz aquela música). Demorou um pouco, e com um pequeno-grande empurrão da minha irmã, fui levada para a tão temida academia e começando naquele mesmo dia no final de maio de 2010 a me exercitar regularmente (dois dias na semana por conta da rotina cruel e desumana).

No entanto, foi só aí que me dei conta que fazia tempos que não me encontrava com tal peso. Pela primeira vez eu estava beirando aquela linha que te separa de uma alimentação saudável para uma alimentação muleta de vez (aquele chocolate que te ajuda a esquecer da angustia dos dias basicamente toda hora). Quando me dei conta, não tão silenciosamente, comecei minha luta interna, com todo o sacrifício inerente da situação, passando por momentos de guerra e paz, de comer ou não comer, eis a questão.

A redenção veio quando comecei finalmente a correr (na esteira). Pensava eu que era incapaz de tal proeza, e hoje sinto falta de correr, e não só de correr, como de puxar um ferro (como dizem no popular) e sentir que meu corpo está em movimento, sentindo cada parte dele se esforçando, esticando e pulsando. Não posso negar que um pouco de narciso em mim emergiu quando as pessoas da própria academia começaram a reparar nos meus resultados que se deram em dois meses de dieta (passando a comer de 3 em 3 horas) e aulas de jump, esteira e musculação.

O impasse entra em cena após umas férias na Europa. Em nome do experimento, de descobrir o novo e desbravar novos sabores, acabei por me alimentar com mais calorias do que o necessário. Como consequência, cheguei ao Brasil conscientemente mais pesada, um pouco pelo remorso interno de ter jogado tanto trabalho dos últimos 5 meses de academia no lixo, e, claro, pesada ao pé da letra, desprovida de qualquer metáfora.

Ao reencontrar um amigo de tempos (que entrou no CLAC comigo), ele diz que estou mais magra. Sei que no fundo ele vê a famosa beleza preenchida, aquela de quando se gosta de uma pessoa, você não importa muito com quilinhos a mais. Entretanto, parece que quando voltei fiquei procurando no rosto das pessoas certa reprovação por me encontrar mais cheinha. Procuro e encontrando. Na verdade eu busco nelas minha própria reprovação, minha rigidez e criticidade. O caso é que meus amigos mais chegados e verdadeiramente amigos não conseguem me reprovar só por isso. Aí é quando me sinto cheia de boas vibrações e quando falo para eles que uma jornada em país desconhecido justifica os tais quilinhos (assunto que eu mesma começo).

Isso me faz refletir que para aqueles que colocam os míseros quilos a mais a frente da carroça (que está cheia de pontos positivos, com certeza), talvez essas pessoas estejam mesmo perdendo o melhor da gente: a nossa espontaneidade, o nosso carinho mais fiel, os nossos pensamentos mais inteligentes e sagazes, o pedaço melhor da nossa simplicidade, a luz de nossos olhos, a perfeição de nosso corpo na imperfeição que tem. Temos muito mais para somar para vida de uma pessoa do que um contorno (magro ou gordo) de corpo. Temos muitos mundos dentro da gente querendo ser descobertos, e cheios de boa graça e entusiasmo.

Assim termina essa via-crucis, na promessa de bons tempos corpóreos, de superação dos limites na corrida e com nova perspectiva sobre aqueles que nos criticam pelo corpo perdendo o melhor de nós por serem tão superficiais quanto uma piscina de mil litros (ai, veneno).

Assim seja.

Amém

Introduçao

Depois de um temporada de férias bastante emocionante, volto ao nosso querido e esquecido diário virtual para tentar reestabelecer contato com os seres que aqui ainda possam habitar.

Falar que muitas coisas se passaram é um tanto quanto redundante. Então, aos poucos, vou pensando (e escrevendo) temas que perpassaram esses mais de 45 dias de férias europeias e mais os dias de isolamento consentido antes de voltar à labuta de vez.

Os assuntos atemporais desses dias foram uso de rede sociais, blogs de humor e críticas do youtube. Chamo de assuntos atemporais aqueles que não dependem de um acontecimento no mundo físico (estar trabalhando, entrar de férias). São assuntos que chamam atenção seja lá qual corte temporal que se esteja vivendo.

Este ano espero oferecer nesse blog mais do que promessas (algo que fiz muito bem nos anos anteriores). Espero retomar o gosto pela reflexão sem eira nem beira, sem pensar muitos nos críticos velados que aqui fazem morada em segredo querendo saber minha vibe ao invés de querer saber do que escrevo.

A minha onda agora é buscar uma identidade na escrita. Criticar o que quero, falar dos assuntos que me apetecem e sem medo de ser feliz ou de cópias veladas das minhas ideias, abrir minha mente para o convívio material das letras flutuando nessa nuvem internética. Ou algo do tipo.