segunda-feira, 30 de setembro de 2013

To be or not to be: um recorte sobre a greve dos professores do município do rio

Desde o princípio da greve, no dia 08 de agosto, a questão principal entre os professores, na minha opinião, é a adesão dos próprios. Ao anunciarem a greve, na quarta à tarde, eu mesma andei pesquisando entre os profissionais amigos próximos a fim de coletar quem estaria aderindo ou não ao movimento. Daí vi dois extremos se formando: os que aderiram a greve com direito a passeatas, camiseta e tudo mais, e os que estão com horror a greve, com direito a se sentirem agredidos e coagidos pelos grevistas.
A questão é: tive de me retratar com amigos professores não grevistas sobre minha posição. Agora também tenho de me retratar com amigos grevistas sobre minha posição. Não entendo: por que tanta retratação, meo deos?
Um lado não quer comprometer o salário, as férias, a posição na escola. O outro quer o rim do prefeito e da secretária de educação. O que EU quero? (eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é...). 
Bem, musicalidade a parte, claro que quero mais respeito para com a classe (que é a minha, by the way), e um plano de carreira digno; para de ouvir piadas sobre nossas férias de mais de um mês por ano, se uma pessoa comum estivesse exposta ao que estamos regularmente iriam entender bem a história das férias. Não atoa a classe professoresca é atuante assídua na farmácia atrás de rivotril e cia ltda. Outra reinvindicação interessante: vale farmácia. Afinal, quantas vezes no ano tive sérios problemas na garganta? Com um vale farmácia, atenuaria a questão, já que problemas na garganta não é motivo para qualquer tipo de afastamento no trabalho.
Obviamente, sou do lado grevista. “Obviamente” pra quem me conhece levemente. Apesar de ponderar no início, sabia que esse seria meu destino. Deste modo, assumi minha posição e os motivos que me fizeram optar por ela, mesmo arriscando salário, mês de férias e afins. No entanto, passado mais de um mês de greve e com o triste episódio de professores sendo arrastados por policiais pra fora da câmara, parece que o sangue subiu aos olhos e todos professores que lá estavam presentes QUEREM SANGUE.

O que não entendo é o vandalismo dos que lá vão, acampam, militam corporalmente, mas perdem as estribeiras morais ao dizer que o colega de classe (que o próprio militante louva defender), não deve aceitar o aumento de salário e demais benefícios vindos da greve e da luta. Primeiro, a luta vai além de ir lá, invadir câmara, de levar porrada.  Se alguns apanharam, uma pena. Mas todos não precisam apanhar pra entender a importância disso. Ponto. Segundo, se eu estou participando das caminhadas, protestos e etc, devo ter a serenidade de cativar os colegas não-grevistas, e não a empáfia de achar que o que EU faço é o mais correto. E se o outro não achar? Simplesmente:  o óbvio não é obvio pra todos.
Dentro dessa greve ou de qualquer outra manifestação ou união de classe enfrentamos UM grande problema: de ser humano. A gente quer mudar o outro, obrigar, intimidar e não OLHAR com uma perspectiva diferente dos olhos cheios de sangue ou cheios de indiferença.  Há muito mais por trás dessa greve que supõe nossa vã filosofia: são muitos profissionais de diferentes formações e diferentes opiniões, e um sombrio maquineísmo político dos lados de Paes e do próprio SEPE. Contentemo-nos então com a maioria.
Por último, dentro de uma classe desaculturada que é a nossa dos professores, é uma vergonha TOTAL ver colegas desencorajando os demais a participar dos eventos da cidade (como o festival do rio), ou de simplesmente sair; parece que os companheiros revolucionários estão até o pescoço de nossa herança cristã de querer catequizar a tudo e todos com a premissa do sofrimento e do padecimento.

Greve, sim. Extremismo político, não.

Tenho dito, esta é minha posição.