segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Calvin & Haroldo

Calvin: Olhe, Haroldo, há um filhote de quati no chão.
Haroldo: Estará vivo?
C: Acho que sim, mas ele está machucado. Veja ele mal pode respirar.
H: Melhor nem mexer nele, se ele está ferido.
C: Sim. Você vigia ele. Vou correr e chamar a mamãe.
H: Espero que ela possa ajudar.
C: Claro que sim. Você não pode ser mãe se não puder consertar tudo muito bem.

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C: Olha lá o Haroldo tomando conta dele. O quatizinho está nem ali!
Mãe do Calvin: Oh, Clavin, eu não sei se podemos fazer algo para salvá-lo. Ele parece muito mal. Vá pegar uma caixa de sapatos e uma toalha limpa.
C: Certo!
MC: Eu não sei se esta coisinha pequena vai se salvar, Haroldo! [Suspiro] Eu odeio quando essas coisas acontecem. ... Você pode notar que eu estou aborrecida quando começo a falar com você...

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MC: Bem, eu o coloquei na caixa de sapatos. Acho que tudo que podemos fazer é conservá-lo aquecido e seguro. Vamos colocá-lo na garagem e dar água e comida pra ele.
C: Eu li numa revista que os quatis comem de quase tudo. E se é assim, vou ficar contente em doar para ele quase todo o meu jantar.
MC: Calvin, você nem sabe o que vamos comer.

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H: Ele comeu alguma coisa?
C: Não.
[os dois olham mudos pra caixinha onde está o quatizinho]
C: [chorando, olhando pro quatizinho] Não seria muito agradecido de sua parte quebrar meu coração.

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H: Não consigo dormir.
C: Nem eu. Não paro de pensar no quarti.
H: Espero que ele se salve.
C: Eu também.
H: Eu acho os animais tão engraçadinhos.

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C: Papai, você já olhou o quatizinho esta manhã?
Pai do Calvin: Sim, Calvin... Sinto muito, mas ele morreu.
C: UAHHH!! [chorando desesperado]
PC: Também sinto muito, filho. Mas ele não tinha muitas chances.
C: UAHH-AAHH!
PC: Pelo menos ele morreu quentinho e seguro. Fizemos o que podíamos, mas ele se foi.
C: * chuif * Eu sei. ‘Tô chorando porque lá fora ele já se foi, mas ele ainda não saiu de dentro de mim.

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C: [falando com Haroldo, que só ouve] Foi aqui que o papai enterrou o quatizinho. Eu nem sabia que ele existia há alguns dias e agora ele se foi para sempre. É como se não tivesse nenhuma razão para que a gente se encontrasse! Eu tive que dizer adeus assim que disse oi. * suspiro * E assim mesmo... de uma forma triste e terrível, ‘tô feliz por tê-lo encontrado. ... Que mundo idiota.

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C: Sabe, Haroldo, não consigo entender esta história de morte. Por que aquele quatizinho tinha de morrer? Ele não fez nada de errado. Ele era tão pequenininho! Qual é a vantagem de colocar ele aqui e levá-lo de volta tão cedo? [os dois, embaixo da cama] Ou isto é mesquinho ou arbitrário, e de qualquer forma me dá calafrios.
H: Por que é sempre de noite que a gente fala disso?

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C: A mamãe falou que morte é tão natural como nascimento, e tudo faz parte do ciclo da vida. Ela diz que nós não entendemos realmente isto, mas há muitas coisas que nós não entendemos, e nós temos apenas que fazer o melhor que pudermos com o conhecimento que nós temos. Acho que isso faz sentido. ... Mas vê se você não some. [abraçando Haroldo]
H: Não se preocupe. [retribuindo o abraço]

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A ESSÊNCIA DE CALVIN E HAROLDO, de BILL WATTERSON – páginas 223-225 – Cedibra Editora Brasileira Ltda.

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