sexta-feira, 30 de novembro de 2007

no desconcerto do dia

Há algo de errado com o dia de hoje. Alguma coisa dizia, ao passar da meia noite, que o dia seria um misto de desencaixe e penúria. Algo ecoava dentro da mente dela, algo retumbante, colossal, algo de perigoso. Ela tentou se aquietar no silêncio do quarto. Os barulhos lá fora já não eram barulhos, já não eram ouvidos, pois dentro da mente havia um mantra entoando acaso e descaso, um som indecifrável e pavoroso. Ela não iria dormir, não naquele momento, não no momento seguinte. Levantava, voltava, deitava, adormecia. Iria dormir em breve, ela tinha certeza. Dormiu. Quando se deu conta estava em um outro mundo, um mundo de tom pastel que se tornava cada vez mais escuro. O relógio despertou, a casa despertou, e ela que deveria acordar cedo para o trabalho adormecia fervorosamente, como atada com correntes ao sonho. Ela estava. O tempo do sono ia se alongando em um momento crucial, em que tudo ficava preto e branco, e uma ligação era recebia vária vezes seguidas do mesmo destinatário. No sonho ela se tornava angustiada, chorava e um desespero a invadia: a pessoa já havia morrido. O número que aparecia não tinha nexo, muitas vezes aparecendo repetições, inclusive com os ‘seis’. O perturbador sonho não a deixava despertar e seguia hipnotizada pelas ligações incongruentes, sem ninguém ao redor entender o que se passava. No momento em que se achava totalmente mergulhada, ela resolveu chegar à superfície, deste modo alçou vôo rumo ao consciente e quando olhou o relógio faltavam 5 minutos para o horário de ela estar chegando ao trabalho. Levantou num sobressalto e sem pensar adentrou na sua rotina da manhã, mas não tinha fome. Pegou uma maçã para levar, mas nem pensou em tocá-la. Bebeu água. Com o copo na boca, em um sobressalto, girou, e no giro bateu no portal de sua porta com o copo na boca. Sentiu o trincar do copo e dos dentes, mas só sentiu em sua mente, porque tudo não passara de um susto. No caminho ficava devaneando sobre comida, sobre a falta de vontade de comer, sobre o trânsito que piorava e sobre seu iminente atraso. Voltou a pensar em comida, pensou em como tem se alimentado mal, e como seria interessante almoçar hoje. Ela corria dentro dos pensamentos e pensava que qualquer coisa podia acontecer, o sonho, o vidro na boca, o inexplicável. As coisas foram acontecendo, então. Na verdade, as coisas não foram acontecendo. Foram deixando de ser o que deveriam e partindo para o universo das coisas que jamais se realizarão.

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