sexta-feira, 21 de setembro de 2007

No último ônibus

Fico me desfalecendo de dó às vezes. Olha que meu coraçãozinho não é de se admirar muito com as coisas, acostumada com os tons sombrios da cidade cinza. Contudo, voltando pra casa depois de dia de aula/trabalho e cia ltda, entra no ônibus, assim de supetão, um senhor, 65 anos, com blusa azul celeste escrito “acredite no senhor e você vencerá”, que ao meu lado pede atenção de todos para contar seu causo.

Ele tinha câncer por todo seu crânio e sua filhinha (bem, com que idade ele teve filho), estava também com o mesmo câncer, encima de uma cama, mal mal mal, e ele precisava do dinheiro para comprar as caixinhas de remédio por R$8,75. Fiquei impressionada com o desespero da criatura: “gente, eu não bebo, não tenho vício, eu só preciso muito dessa ajuda de vocês para poder comprar o remédio da minha menina”. Oh, um apelo daquele haveria de sensibilizar muita gente. E ele ajoelhou-se no meio do ônibus e continuou no seu ‘horrorshow’, observado por alguns com desdém, por outros com descaso, pela maioria (eu incluída), com bastante pena.

Não gosto dessa coisa de pena não. Cheira algo de “sabe, vc é inferior a mim, por isso o q posso fazer é sentir pena de você”. Mas senti ali um quê de compaixão, misturado com peninha, causando minha torcida até para que ele conseguisse a quantia necessária (e mais). O interessante é que não dei um tostão. Só me dei conta disso quando ele desceu. Se me desse conta antes também não daria nada (do tudo que não teria). Mas, de qualquer forma, esse é o tipo de coisa que martela no momento. Depois, parece que nem faz mais sentido lembrar, afinal, o problema é de quem?

Um comentário:

Oibaf disse...

Esse é o nosso espírito, o normal é vivermos num estado de morbidez contínua que momentos como esses interrompem. Um egoísmo me faz gostar porque nesses momentos eu me sinto mais humano e menos normal.