segunda-feira, 14 de maio de 2007

homenagem

O dia já no seu início anunciava o inusitado: perdi 2 ônibus vazios que passaram, peguei um cheio com um vazio logo atrás, passei mal (pressão baixa e pagando o mico de pedir pra sentar pra não me esborrachar no chão), isso pra não ter a primeira aula (que o professor NUNCA falta - até que falta um dia). Ao invés de dar uma lida nas coisas de literatura brasileira pra prova em seguida, resolvi papear pq àquela altura era o que melhor se configurava para mim.

A prova transcorreu muito bem, falei sobre Dom Casmurro (dentre tanto a escolher) e o plano onomástico. Saí animada pronta pra falar de Wuthering Heights, quando descubro q fomos dispensados de literatura inglesa pra uma tal palestra sobre Shakespeare numa sala destinada a eventos ilustres da faculdade. O lugar era pequeno, formava-se um quadrado com as mesas, com os professores (que até então não sabia que vinham de diversas partes do Brasil) e alunos apinhados por todos cantos, tendo a sorte eu de sentar no chão atapetado (pra tudo dá-se um jeito). Pus-me a anotar o que a tal Marlene Soares dos Santos, velhinha sorridente, falava sobre a narrativa e o teatro, focalizando o teatro shakespeariano (um deleite, garanto). Em seguida, fala uma mineira sobre ideologia dentro de Shakespeare, numa peça chamada 'Tempestade' que até então nem conhecia. Na hora das perguntas é que veio a surpresa, além do comentário da gaúcha de que a ilha da "tempestade" de shakespeare pode ser aqui no Rio, veio a supreendente homenagem a dona simpática.

O caso é que é nessa semana que a senhora simpática e modesta comemora seus 70 anos, e pelo que pude comprovar, também o pleno reconhecimento no que faz por sua total simplicidade, generosidade, como falaram: não compartilhando do ethos da sociedade moderna de estrelismo, competitividade e mesquinhez. A dona marejou não só os olhos dela de lágrimas, como de muitos ao redor. Foi a choradeira mais alegre, pois todos viam refletido nela o famoso 'queria ser assim quando crescer'. E te digo, amigo que me lê espassadamente, Marlene Soares dos Santos é um grande exemplo de se colocando amor no que se faz só poderá dar bons frutos, que reconhecimento vem como consequência, além de ela ser das que acredita que sempre se pode exigir mais da inteligência do aluno (isto é, ela reprovava mesmo, sem delongas).

Ela estava ali, e com seus 70 anos... Se fosse dito que era homenagem, não vinha, não era dada a essas cousas. Mas qdo disseram que era palestra pros graduandos, veio exultate, sem exitação em compartilhar seu conhecimento. E contou risonha de quando a perguntaram se ela não temia os 70 anos e respondeu 'eu temo sim, mas conheço muita gente que passou dos 70 anos e sobreviveu'. E como ela disse, está com seus 70, mas renovada pelos amigos ao redor, pelos que a procuram ainda hoje. Contou que ao se aposentar na UFRJ depois de anos de casa (ali desde a graduação e sempre ali - e o bonito é que alcançou renome nacional e internacional sem nunca ter saido dali), sentiu que fosse parar de ser parte daquele todo, contudo procurava pensar que na verdade sempre faria parte. Agora ela tinha certeza que fazia parte sim da UFRJ e citou Machado de Assis: "Por essas honras..." esqueci o resto, mas sei q tinha consolo, algo como 'essas honras valem como consolo'.

É, aprendi em 1h e meia o que se custa a ver em anos de faculdade. E que vejo muitos se formando sem ainda ter aprendido. E ainda teve bolo! Sorrisos, clima bom assim em anglo-germânicas e letras inteira... Todos falaram a língua da ternura.

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