sábado, 23 de junho de 2007

sobre reitorias ocupadas


Ao ver a notícia de que a reitoria da USP foi desocupada pelos estudantes, me vejo aqui a na obrigação de pautar meus pensamentos sobre o assunto enquanto a ‘revolta’ transcorria.

A primeira coisa: temor. Greve. Sim, eu tenho uma formatura em 2008/02 e, fora Port V, nada mais poderá ameaçá-la. A ocupação da reitoria da USP gerou muita repercussão por aqui, panelaço de estudantes, ocupação por um dia da reitoria, e as eventuais passeatas pra frente da reitoria pelo bandejão (que sairá daqui a uns 30 anos, só pode).

Depois do medo, veio a vontade de saber ‘mas que diabos está acontecendo’. Afinal, pela pintura dada ao caso pelo digníssimo jornal O Globo, os estudantes eram uns depredadores baratos que lutavam por uma autonomia absurda e ponto. Pesquisando na internet vários jornais, medindo o que cada um falava, me descobri numa inebriante simpatia pelo movimento. A bandeira não era só pela autonomia (que não é pouca coisa), mas também por aqueles itens que deveriam ser de fábrica qdo se entra numa universidade federal, tais como o tal alojamento suficiente.

Não satisfeita, fui no youtube (pelo link de uma das reportagens) e me deparei com a parte mais fascinante da pesquisa. Não falo dos vídeos at all! Mas dos comentários... Imaginem a riqueza do imprevisível, os comentários me surpreenderam pra além-mar e pela primeira (e única vez até agora), passei horas no youtube simplesmente olhando comentários.

A questão toda era expectativa... eu esperava ter lá uns contras, outros a favor, mas com certeza a maioria apoiando, claro. Ledo engano da ingênua aqui, afinal o recalque de não se entrar numa federal bateu forte e todo material daria uma maravilhosa análise do discurso.

Chamavam os participantes de ‘filhinhos de papai’, de gente que não tem o que fazer, que fica mamando no dinheiro público e ainda reclama, ‘estamos sustentando vcs’, depredadores de prédio... Bem, fiquemos só com esses adjetivos. Pensei imediatamente “mas que diabos ta acontecendo com esse povo?”. Simples, presumi em seguida, todos estavam impregnadas com ‘rede-glogo-pensamento-de-vida’. Não era simplesmente ‘não concordo ideologicamente com o que vocês fazem’, era pejorativamente uma repudia que chegava a ser desnecessária. Os cães de briga do governo.

Agora pensando nisso lembro de certo amigo que sempre diz que somos todos muito passivos. Além de sermos passivos, compramos briga por uma idéia que não nos beneficia simplesmente por introjetar as idéias ‘senso comum’ que nos vendem na mais deslavada cara de verdade absoluta.

Fiquei feliz pela ocupação da USP, creio que o movimento foi coerente e se faz necessário no mar de passividade, o que não quer dizer partir pra violência, pois o maior trunfo deles foi de modo algum entrar em choque com polícia, coisa do tipo. Eu já sinto mudar muitas coisas no meu meio universitário, é sensível todo povo querer discutir as causas do caos todo, se indignar, tomar posição. Eu mesminha no final até pensei que não seria o fim do mundo atrasar um pouquinho a colação (ok, mas essa idéia passou como um flash e esvaeceu!).

2 comentários:

Anônimo disse...

Já que adoras tecer comparações com músicas, filmes e afins, o exemplo que te trago é o "The Wall" do Pink Floyd, naquela cena já batida do "we don't need no education" (Another Brick in the Wall, Part II). A uniformidade das pessoas marchando pela... liberdade de não ser uniformes e pensar cada um pela própria cabeça.

Quanto às ocupações, eu acho impossível apoiar pelas manobras escusas em muitas ocasiões, como na UFRGS. É verdade que a ocupação foi a mais pacífica possível, mas um movimento deveria ser por uma única causa, e não por várias e tão diversas. Inserir na pauta assuntos ainda muito debatíveis (como as cotas e a avaliação dos formados por parte do MEC), mascarados por temas grosso modo unânimes (como melhorias em bibliotecas e qualificação de professores) e por uma série de temas que nada tem a ver com a questão (como a questão palestina), é uma forma grosseira e vil de empurrar goela abaixo as próprias vontades.

E não adianta ter saudades de um '68 que não se viveu... Imitar é uma coisa, copiar é outra.

Andréia Pires disse...

anônimos...