segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O poder de ser humano

A sensação de presenciar uma briga é algo que deve mexer não somente comigo, mas com todo mundo. Sinto o pulso acelerando, mas ao mesmo tempo fico estática, quase inerte. Imagina se essa briga acontece em um veículo em movimento, como um ônibus. É, voltando de Botafogo, depois de sessão no Estação com Thatha (Coco avant Channel), ao pegar meu segundo ônibus não imaginaria a cena que viria quase no final da viagem. Escutava música no celular (acabei me rendendo a tecnologia de celular fazer tudo, até cortar a unha), quando de repente gritos perceptíveis ao meu ouvido, olho pra trás e vejo um rapaz agredindo o cobrador, que por sua vez levantou da cadeira e começou a chutar o rapaz no rosto. Apesar do rapaz sair arranhado no rosto, foi ele que o atacou (e continuou atacando), e finalmente quando alguém foi apartar a briga, ele ainda esbravejava com os outros. Ele era baixo, com um corpo atlético (mas não marombado), negro, por volta do esplendor dos 20 e poucos anos. O trocador era moreno trigo (afinal, 'moreno' em nossa sociedade é algo mto generalizante), com seus 40 anos já vividos, e cara de cansado. Quando o menino saiu escoltado, todos se voltaram para trás com intuito de saber porque diabos o rapaz o agrediu. O trocador respirava ofegante e não respondia aos nossos olhos atentos, até que alguns perguntavam uns aos outros num tom mais alto afim de obter resposta do dito cujo sobre o tal motivo. Ele então se pronunciou: a moeda do troco caiu no chão, ele pediu pro menino pega (por motivos óbvios) e então... a reação.

Fico me perguntando que motivos levaram ao rapazinho a agir daquela forma. O poder que lhe dá a juventude às vezes te tira a razão e a sensibilidade. O poder que dão os músculos às vezes nos tiram a força da argumentação. O poder que nos dá o fato de sermos homens, às vezes nos tira em humanidade.

Oh gosh... vamos falar de Coco avant channel no próximo post...
Os leitores silenciosos são os mais fiéis.


(sobre leitores de blog)

domingo, 29 de novembro de 2009

Onde está a esperança

Voltando para casa numa noite de quinta, pouco tinha para achar a vida bonita. As coisas se viam turvas, o ônibus parava longe do ponto, a vida sem sentido. Vendo de longe um grupo de jovens arrumados atipicamente de roupa social, tentei atravessar logo a rua adivinhando "vem coisa de igreja". Dito e feito, um deles me entrega um papelzinho e diz "Jesus te ama", os outros começam ao rir e um comenta "só entrega pra mina bonita esse aí". Eu dou um sorrizinho do canto da boca, e não jogo o papel na rua por motivos ecológicos,então o coloco na minha bolsa pensando que 'maravilhosa' mensagem me espera. Mas, como eu adoro fazer análise de discurso dessa modalidade, tirei o papel da bolsa e li rapidamente "onde está a esperança". Confesso, a pergunta me pegou. Onde está essa esperança... Nos amigos que somem, nos amores que nunca se concretizam, na profissão que não trás engrandecimento, no lazer que não trás conforto... Aonde será que está, meu Deus, que eu não vejo! Guardei a esperança na bolsa, aquela questão já valeu pela noite. Cheguei em casa, abri o sorriso, e deixei a esperança tentando crescer dentro de mim. No outro dia tinha trabalho pra entregar (e ainda terminar de fazer),tinha prova de CAE e... No outro dia eu vi que tinha esperança, tanto nos amigos, que te mandam uma mensagem quando vc pensa que eles já te esqueceram, no amor platônico de todo dia e no amor por si mesmo e cuidado com o próximo e no saber, que de tão bom que é ter fonfinça que sim, nós podemos.

O papel da esperança sofreu com dilúvio dentro da minha bolsa no sábado pela manhã indo ao trabalho, e jaz em paz em alguma lixeirinha da ufrj. Agora, o que esse papel me trouxe... (suspiros).

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

sobre CLAC e algo mais...

Ao começar o treinamento do CLAC em julho não podia imaginar o que a entrada nesse projeto me trouxe. Primeiro, possibilidade de entrar em contato com pessoas novas, pessoal dos outros períodos que já estão mais que distantes de mim. Depois, vem a questão de ser um desafio, de sair da sua zona de conforto e ter de ser 'julgada' profissionalmente por pessoas que estudaram contigo. Em seguida, a primeira aula, o desafio de ver 30 cabecinhas com objetivos totalmente diferentes e motivações das mais variadas. Sem dúvida, desde o início tinham meu respeito, e por isso mesmo minha mais preocupação em montar as aulas. O fato é que eles foram oficialmente minha primeira turma de inglês, já que na Cultura tenho alunos em individual, e na Mudes eu dava aula de português. Engraçado que eles achavam que eu tinha anos de experiência, e eu deixei que achassem isso, até pela necessidade de um álibe que eu estava fazendo um bom trabalho. Desde o início recebi elogios rasgados de uns alunos, e poucos bocejos para um sábado demanhã. De fato, a cada sábado, apesar de sair exausta, saia também com uma sensação de realização grandiosa, como mulher maravilha que tudo pode. Eu podia.

Entre justificativas, perguntas (às vezes absurdas), olhares atentos e muito sono, no final tivemos um semestre muito interessante, no qual foi a primeira vez de muitos em aulas de inglês e me senti muito honrada em transmiti-los o pouco que sei. Sinceramente, eu gosto mesmo de ser professora. E nem importa muito a matéria, esse contato com as pessoas, a atmosfera de conhecimento, tudo isso me apetece muitíssimo. Hoje foi a última aula antes da prova (29-11). Como forma de marcar esse momento levei chocolate pra eles com a desculpa de ser natal, mas na verdade é que não quis confessar o quanto eles eram importantes pra mim.

O dia em que o Rio parou

A pergunta clássica: o que você estava fazendo quando aconteceu o apagão no Rio... Estava eu no meu primeiro ônibus, rumo ao terminal de Niterói para pegar o segundo, e finalmente chegar em casa. Em Icaraí a luz acaba, e penso que seria somente ali naquela região. Ledo engano, centro de Niterói totalmente às escuras. De repente um certo temor tomou conta de mim; não tenho medo de escuro, mas... tenho medo do que possa ter causado a escuridão e do que pessoas são capazes de fazer no anonimato do escuro.

Ao descer do ônibus, outro drama: a chuva. Desci e ao olhar aquele portal escuro do terminal me encorajo para ir no sentido contrário e atravessar entre os ônibus até chegar a minha plataforma. Ao fazer isso minha mãe me liga. Apesar de muito querer falar com ela, digo que não posso, que ligo depois. Vejo meu ônibus bem no momento de sair, entro e o carro arranca. As pessoas estão olhando ao redor, e não carregam aquele olhar de indiferente inerente de passageiros de ônibus. Pego o último lugar disponível e me sinto de certa forma protegida ali. Então, ao tentar retornar para mamãe reparo que a Claro não tem sinal. Bate o desespero temporário: e se não tiver sinal até chegar em casa... E se não chegar em casa...

(continua no próximo capítulo)