Saindo de vários pontos do Rio de Janeiro, deslocavam-se todos para um ponto iluminado na noite carioca, a Lapa. Eles se ajustavam para o encontro em horários distintos, questões diferentes. Identidade, relacionamento, existencialismo, vaidade, ansiedade. Todos queriam adentrar a bolha social, introduzir seus convidados e fugir do autómatico cotidiano pesado e cinza. Cada núcleo em horário diferenciado. Cada um na expectativa do que seria aquela noite. Lapa, noite carioca, outono, barzinho de luz baixa e musiquinha brasileira da agradável. Então, os sorrisos, os abraços, o reencontro. A gostosura dos olhares, a afabilidade de uma noite generosamente estrelada, iluminada especialmente para uma rodada de prazerosas conversas. Então, depois do gelo inicial de cada chegada, os assuntos começam a fluir. Fluir... Delizam dos lábios, de tudo! Muita música, versões inéditas de Faroeste Caboclo, canções do Chaves, entre outras. O momento de silêncio, as trocas de lugares... E veio a lágrima furtiva da moça bonita ali no canto. E o motivo, ela deixou pra mistério, mas o bom é ver que não nos embrutecemos, vem a ternura, vem “quer um abraço”, vem a cumplicidade de olhares fervorosos por entendimento, por reconhecimento, por engrandecimento humano.
Esta noite serviu para conhecer não ao desconhecido, mas ao que esteve sempre ali, na nossa frente e nós não olhamos. Para aquele que pegou nossa mão e beijou e desviamos o olhar sem graça. A cortesia atingiu o limite do si mesmo. Aquela lágrima, por quê... Porque precisava alertar a mim mesma, como a barata ajudou Clarisse, a entender a minha condição de tão nada, de tão tudo, de tão efêmera, de tão só. Só. Terminei só. Noite linda, praça XI, a vinda, ponte vazia, o menino do ônibus, a moça bonita dormindo, e eu... Pensando na conversa em inglês, na cena de filme que fizemos ali, sonhando. E eu, tão indigna do seu olhar, pensei, fui eu quem desviei.
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