sexta-feira, 31 de agosto de 2007

E ela sentiu saudade...


A menina acostumada a ser sozinha o tempo todo achou estranho quando, de repente, aos 4 anos, apareceu um alguém misterioso que diziam ser seu primo. Ela, de início, o boicotava de todas as maneiras, pegava a bicicleta rosa e fechava o caminho para ele não passar no corredor onde daria no jardim só dela. Depois de fazê-lo, algo dizia que estava errada, mas continuava, pois não poderia perder o reinado. Por vezes pensava brincadeira para os dois, mas era orgulhosa demais para deixar o menino de dois anos brincar com ela.

Dessas vezes ela não era a menina que queria ser. Mas ela estava aprendendo a lidar com o ciúme, com o dividir atenção, com o dividir a própria vida. Ela não sabia dividir, foi ele quem ensinou. Ela teve até de dividir a festa de aniversário! E foi nesse dia, fazendo 5 anos e ele 3, que de vez ela aprendeu a humildade de se ser: em um momento, toda boba, ia pegando o grande presente da mão de uma convidada que chegava tarde, quando a mal-humorada moça respondeu rispidamente “não é pra você”. Mas como podia? A festa não era dela? Com a roupa rosa ridícula, depois de uns bons minutos refletindo ao som de ‘trem da alegria’, se deu conta que esse era o mundo agora, de dividir as coisas. E pensando bem, aquela tinha sido a melhor festa que tinha tido até ali.

Foi aí que se tornou a menina que queria ser... E mais, foi o primo que a fez sentir saudade pela primeira vez. Ele não foi só o primeiro a dividir as brincadeiras com ela, mas também primeiro a ser levado para longe, assim, sem explicação. Ela escondeu a espada de He-Man amarela de plástico que era a predileta dele para ver se ele viria buscar. A espada ficava sempre do lado enquanto brincava com as bonecas, com as pedras, com as plantas, com qualquer coisa.

E ela sentiu saudade.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Gostaria de saber desenhar assim...

Dos Hemanas - Renoir

...Alguém me dá isso de presente de aniversário?


Se meu futuro é com arte, passar horas divagando sobre um quadro assim, eu não sei. Mas sei que se fizer isso da vida não ficarei triste.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

O dia em que ela não quis sorrir


Ela não era de traquinagens, de quebrar perna, braço ou cabeça. Mas no pensamento mirabolava as coisas mais inverossímeis só pelo prazer de pensar as coisas diferentes. Foi assim que, em um belo dia indo no parque com família, ela resolveu não sorrir.
Papai e mamãe tiravam, corujas, fotos sem parar da menina com aquele bocão aberto, bocão que ela achava que se fizesse não estaria sorrindo, apesar da vontade incontrolável de fazê-lo. Ela abria mais o bocão quanto mais estava se divertindo. Por boa parte da noite achou que enganava o mundo inteiro com uma falsa reação de indiferença e o disfarce da boa aberta. Contudo, na hora de deslizar no tal tobogã ela resolveu deixar a falta de sorriso pra lá, se libertar das botas ortopédicas e junto com papai deslizar tobogã abaixo, com muito sorriso. Pena que dessa parte não tiraram foto, foi o momento em que a menina viu que não viveria nunca sem sorrir.
Desde pequena ela aprendeu a ser flexível nas suas resoluções. Não te digo, ela eu sempre quis ser.

domingo, 19 de agosto de 2007

da lembrança mais alta

Ela era a menina que sempre quis ser.

Banho de balde, alegria, vovó, plantas da vovó, pedras, terra, pipa, bolas-de-gude, Dolly Cat, Cigarrinha Feliz, Água Branca, Vitória (a galinha), Romário (o galo), Feinha (a outra galinha), queda da escada, espada do He-man, primo, Lela, mangueira, goiabeira, cana-de-açúcar, muro alto, jorge luís, 'escatabuft', adoleta, zerinho ou um, pique alto, pique parede, pique esconde, pique cola americano, Quinta da Boa Vista, Turma da Mônica, empadão, catequese, piscina, Realengo, pracinha, Brisa, alagamento, trovão.

Ela era menina que só ficava dentro de casa, não brincava com todo mundo não. O mundo dela bastava, mas quanto ia pro mundo dos outros... Fazia correnteza.

Que saudade dela.

sábado, 18 de agosto de 2007

Só um mês

Falta um mês para meu aniversário e, em outros tempos, essa data me causaria excitação e ansiedade com o pensamento na idade seguinte. Contudo, tem horas que não se espera idade, ela vem. E é assim que tem de ser... vem turbilhão de idade, de faculdade, de dificuldade, (i)maturidade e de falta de identidade.

Sabe-se lá o que estou sendo. Sinceramente, me perco entre o agora e o depois. Será que não gosto de muita coisa que digo amar? Eu fico nisso, tempo todo ultimamente. É coisa da idade... Não, é coisa do momento, da transição toda de ser aleatório pra ser adulto. Eu acho né. Nenhum especialista conversou comigo sobre mim. E nem quero.

Fico no quarto o tempo todo, não tenho mto orgulho disso. Mas o quarto é meu habitat natural. Não pertenço mais (que batido) a esse mundo aqui à minha volta. Não pertenço. Não quero. Não quero pertencer. Sou de outra onda, outra batida, outro carnaval... Sou da sonoridade leve, sozinha, mas feliz.

Vinte e dois nunca pareceram mais libertadores. Fico pensando já no 32... e depois 42... e 52... A vida passa rápido a partir daí. E agora o que mais faço é não pertencer à minha idade, à minha vida, ao meu convívio. Acho que vou perecer de tanta angústia de não poder, com vinte e dois, tomar fôlego, coragem, rufar o peito e... Ao infinito e além!

Só um mês....

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

o bombom

Tenho experimentado um mundo novo desde meio de julho. Ser chamada de ‘professora’, alvo de toda e completa atenção, vista como ‘mais velha’, responsável pelo aprendizado alheio. Uma coleção de sensações que culminou com meu primeiro presente de aluno.

Sim, eu sonhava em ser respeitada, que eles gostassem da minha aula a ponto de quererem me agradar com sua atenção, até mesmo com um docinho. Contudo, não pensei que seria tão rápido. E foi hoje, dia 9 de agosto, que ganho o doce de Nathália.

Chego mais cedo ao Mudes, vejo que ela já está na sala me esperando. Então sem muita demora me encaminho para o início da aula. Então ela tira da bolsa um bombom em forma de coração embrulhado em papel vermelho e diz ‘olha professora, pra você’. Fiquei surpresa, sem reação... Peguei o bombom com cara de toda-boba-feliz-da-vida-mesmo em um breve momento sublime da minha existência.

Alguém pode dizer ‘mas essa daí se contenta com pouco’. Esse alguém não sabe o que um bombom custa pra aquela criança, deixar de comê-lo pra dar pra professora de português (que nem nota dá, então não é por interesse). Fiquei tão encantada... (sem contar no encanto que são meus alunos novos – apesar de alguns muito barulhentos – que retratarei numa outra postagem aleatória, afinal o bombom de Nathália merece um posto só pra ele).

E há quem diga que dar aula não dá dinheiro. Com atos desses quanto vou economizar com o plano de saúde...

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Nós temos inglês de Portugal

Refletindo o papel do estudioso de Inglês, fico pensando como muitos professores se lançam à bestialidade de verem a língua como somente moeda (ensino inglês pq dá dinheiro), como status (falo inglês pq é a língua chique), enfim, inglês pra colonizador ver. Isso foi tratado na primeira aula de Inglês VII (que deu mto o q falar pelo regime ditatorial), sobre o inglês para ir para Miame comprar Rayban.

São esses professorezinhos que ganham salário para comprar roupa de grife (nada contra as grifes, mas elite intelectual gastar dinheiro só com isso?!), ao invés de investir mais solidamente em algo que vai te deixar verdadeiramente livre, a educação. Já as roupinhas vão te aprisionar sempre a cada seis meses com uma nova massada de novas ‘tendências’ deixando absolutamente obsoleto o caríssimo guarda-roupa (inclusive o pretinho básico). Ao invés de usar a língua como bandeira da heterogeneidade, a usam como reprodutora da hegemonia nortista. Pessoas que não aceitam SER mestiças e estarem num país mestiço, negro de se ver.

O aprender inglês não quer dizer baixar cabeça para o imperialismo não, ao contrário, cada um que aprende o inglês comprova que a língua é do mundo e não do tal ‘falante nativo’. Esse mesmo falante nativo que até quando dá aulas de merda é o preferidinho dos cursos de inglês. Tudo isso parte daquela atitude dos professores-imbecializados que não deveriam nem ter perdido seu tempo em alguma graduação.

Creio que é essencial que se inspire na classe a criticidade, a reflexão e o incomodo de pensar não só pedagogices de como se ensinar, mas também em como usar a língua como ferramenta de transformação, pensando no nosso umbigo, cidadãos de terceiro mundo. Chega de adoração barata a qualquer porcaria de lá, querendo falar inglês só pq todo mundo fala, para entender a letra da Madonna, ou só apra um dia visitar NY e comprar uma canequinha ‘I heart NY’ e achar que chegou ao ápice da existência.

Língua também pode ser libertação! E o inglês não é do colonizador não, é nosso também, daqui!

sábado, 4 de agosto de 2007

Divina comédia humana

Te amo, te odeio, tudo junto assim... Que coisa mais clichê, mais cafona, mais do mesmo lugar comum. Mas é assim que me sinto com vc aí, eu aqui... nós despetalados pelos detalhes tão pequenos de nós dois. Se não fosse o suficiente, vc briga, faz pirraça, provoca, mostra língua; eu te digo pra não fazer, vc me chama de demodê. Ah, tenho gosto por nos ver assim, demasiadamente humanos, infantis, anormais, adoráveis e indomáveis.

É a divina comédia humana.



Divina Comédia Humana
por Belchior
Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol
Quando você entrou em mim como um Sol no quintal
Aí um analista amigo meu disse que desse jeito
Não vou ser feliz direito
Porque o amor é uma coisa mais profunda que um
encontro casual
Aí um analista amigo meu disse que desse jeito
Não vou viver satisfeito
Porque o amor é uma coisa mais profunda que um transa
sensual
Deixando a profundidade de lado
Eu quero é ficar colado à pele dela noite e dia
Fazendo tudo de novo e dizendo sim à paixão morando na
filosofia
Eu quero gozar no seu céu, pode ser no seu inferno
Viver a divina comédia humana onde nada é eterno
Ora direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso
Eu vos direi no entanto:
Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de
dizer não eu canto

tudo outra vez

Início de semestre, momento de descumprir todas as promessas feitas no final do semestre passado. Mal começou e fico pensando no sufoco que é sempre o fim (agora que se aproxima o Grande fim), sendo necessário no início o adiantar de leituras, de trabalhos megalomaníacos e de pesquisas impreteríveis. Agora com adicional, a responsabilidade de aulas e planejamentos.

Já sei que no final vou terminar fazendo a promessa do chocolate novamente; começar me apaixonando por sintaxe e em seguida enlouquecendo; ficar com leituras acumuladas pra última hora; com trabalhos de véspera pra fazer no sufoco da meia noite... Resumindo, o mais do mesmo da rotina nossa de estudantes universitários de cada dia.

Começará nesse agosto a contagem de um ano pra terminar tudo. Terminar o que tava tomando gosto de vez de se começar agora. Terminar com vontade de começar novamente. Duvido que seja só eu que tenha vontade essa. Duvido que só eu que vá lamentar muito depois por ter terminado tudo. Ah, eu duvido... Agosto.

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Boa pedida: música do Belchior, Tudo outra vez.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Leo & Bia




"Qualquer maneira de amar valia...
E Leo e Bia souberam amar"
(...)
como se não fosse tão longe...
(...)
como castelos nascem dos sonhos
pra no real achar seu lugar"

tempos "pan pan pan pan"

Tempos de Pan, tempos de quebrar barreiras e recordes. A cidade fantasiada de Pan por dentro e por fora, com policiais nas ruas, bandeiras do Brasil, expectativa de medalhas (de ouro) por todas as partes. O Pan trouxe turismo, lucro pra comerciantes e prostitutas que disputavam os gringos a tapa. Nem tão a tapa, afinal os atletas mexicanos de vôlei estavam dando maior sopa por Copacabana, dando piscadelas para as mocinhas da pista, todos se querendo (e jogando mal pra caramba).

Mas o clima da cidade maravilhosa tava bueno, até que uma frente fria trouxe chuva, desconforto, frio... Imagina quem tava dormindo pelas esquinas da cidade como não devem ter chiado, os atletas indo competir então, nem se fale. E os turistas, improvisaram capinhas de chuva, deram seu jeito para não perder a festa Pan-carioca.

Da minha parte, adorei observar tudo. Praça das medalhas sempre cheia, jogos emocionantes no telão, shows de rock lotados e de música brasileira nem tanto. Confraternização do povo com o pessoal que não é tããão ‘povo’ assim naquele cenário de orla de Copacabana que de fato não existe, as coisas ali são uma realidade que está longe do Rio-real-de-ser. Mas vamos e convenhamos, estamos todos de férias, realidade pra quê?

ps: todos de férias, vírgula, trabalho eu!