quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sr. Motorista

Não se assuste com minha aspereza. Há dias de guerra e paz nessa vida, de tempestade e calmaria, não podemos ser sorrisos o tempo todo. Se estalo a boca com insatisfação, não ligue. É da impaciência que cerca somada com o sono agudo. Parece que vivo num eterno mundo dos sonhos em que o sonambulismo ocupa todas minhas horas vagas entre um lugar e outro. Por isso, senhor motorista, durmo o sonho dos deuses em sua companhia; e me perdoe não estar acordada vendo suas manobras e firulas pelas ruas estreitas, pontes e avenidas. Ah, sei também que não ri de sua graciosidade, não fui recíproca ao seu sorriso e nem cortes com minha falta de ‘boa noite’. Prometo, senhor motorista, que em breve reparo sua boa vontade para com as velhinhas, sua paciência ao parar em frente ao prédio das moças bonitas e seu papo sobre o trânsito da cidade. Agora, senhor motorista, só tenho tempo para meus devaneios. Os devaneios mais cinzas já existentes. Tudo é uma lista infindável de atividades, de textos para ler, de resumos para fazer, coisas para revisar, e-mails para responder. Ao te deixar de lado me deixo também... Não vejo as minúcias do nosso caminho que se cruza por um milésimo de improbabilidade infinita. Confesso, senhor motorista, preciso de um bom andar de ônibus pela cidade, mas não para reparar o que não fiz ou dormir como uma pedra sabão, mas para observar quão bonito é existir e imprescindível amar.
Termino aqui minha singela carta,
Com Carinho,
Sua passageira Fabíola

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