A ponte Rio-Niterói coberta de neblina, cercada de nuvens, com pouco a se ver além. Nesta ponte passei para retornar ao palco do evento da quinta-feira passada. Queria que o engarrafamento viesse, que o tempo passasse, não precisava chegar na hora. Queria me esconder e passar desapercebida pelos corredores da escola. Mas ao chegar na escola, havia uma conspiração estranha, de um cosmos de bom humor que decidiu me fazer pensar sobre as questões da vida de uma forma diferente.
Ao chegar, imediatamente, uma aluna do 1o ano me entrega umas florzinhas graciosas (que certamente ela pegou no quintal de alguém - algo que eu mesma fazia para minhas professoras quando era pequena). A surpresa e a lembrança me inundaram e, com meu melhor sorriso, subi. A primeira turma, 1601, se acomodava quase silenciosamente. Comecei a aula... Senti uma serenidade. Um aluno não parava de falar, outra me mandava coraçãozinho, outro dizia ter me visto na rua, todos responderam oralmente em inglês o que estavam vestindo. Esse clima se estendeu ao dia: uns me paravam para me perguntar das faltas, dos trabalhos, outros pra dizer que meu cabelo era o máximo, outros pra dizer que eu era muito bonita. Assim, do nada, como se beleza brotasse da terra, como se beleza fosse um atributo daquele dia.
Nos últimos tempos, numa turma deveras complicada, 1701, eles se comportaram bem, muitos faltaram (o que ajudou no comportamento). Conversei com alguns, rimos, corrigimos o trabalho, compartilhamos boas horas qualitativas. Ao sair da escola, encontrei alguns alunos do turno da tarde, e um deles era da fatídica turma. Ele pediu desculpas, disse que não era pra ser assim, que não seria assim. Me deu sua palavra, me deu um grande abraço. No caminho encontrei a arretada da Joice, uma aluna da turma de projeto que fez questão de me abraçar e pedir que subisse pra ficar com eles na tarde.
Bem que deu vontade.
terça-feira, 14 de outubro de 2014
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
breakdown
Era pra
ser uma quinta-feira normal. Até tomei um picolé depois do almoço
na escola (que estava delicioso). Achei que passaria incólume pela
tarde de aulas. Tinha três turmas: 1702, 1602 e uma turma de projeto
(realfa). Como professora de escola municipal carioca sonhadora, ando
meio apagadinha nas minhas aspiraçoes. Mas tento nao passar essa
impressao para os alunos. No entanto, hoje foi o dia que, pela
primeira vez em 3 anos, perdi o controle de mim, me escapei pelos
lados.
Estava na
turma da 1602, quando uma série de acontecimentos me levaram para o
final de dois tempos na turma entregando os livros de inglês. Era
algo simples, descomplicado, a aula estava no fim. A turma tem um
espírito bastante presente, mas sao alunos, no geral, que respeitam
bastante e escutam o que se tem a dizer. Gosto muito deles. Já os
considerei a minha melhor turma. Semana passada fizemos um trabalho
juntos que foi bastante proveitoso. Era nessa turma que esperava
terminar bem o dia para depois ir para a turma que, talvez, pudesse
me dar problemas (a de projeto).
Um
momento, uma angústia, uma raiva, um tumulto. Tudo junto. Eles nao
me escutavam, eles eram maioria. Eu tentando, do meu jeito, fazer
aquilo dar certo. Nao aceitei que pudessem ser daquele jeito.
Explodi. Gritei, joguei os CDS dos livros por cima das carteiras,
gritei para todos sairem. Façam o que bem entenderem. Podem descer.
Podem sair. Eles ficaram sem graças. Uns sairam de imediato. Outros
ficaram cabreros. Um dos alunos, ao me ver sair, disse que era pra
ficar tranquila, calma.
Subi as escadas para ir na outra turma. Desabei. Em lágrimas. Chorei, chorei, chorei. Enxuguei as lágrimas, fui na turma, deixei minhas coisas (ainda era um pouco cedo e eles ainda estavam com a professora deles). Desci as escadas, fui na secretaria, peguei água, lavei o rosto. Nao parava de chorar. Que choro era esse? Era querer tanto e nao pode fazer melhor. Era pensar que eles eram mais que animais (como chamados por alguns), e seriam mais que bandidos ou vassalos de gente rica.
Subi as escadas para ir na outra turma. Desabei. Em lágrimas. Chorei, chorei, chorei. Enxuguei as lágrimas, fui na turma, deixei minhas coisas (ainda era um pouco cedo e eles ainda estavam com a professora deles). Desci as escadas, fui na secretaria, peguei água, lavei o rosto. Nao parava de chorar. Que choro era esse? Era querer tanto e nao pode fazer melhor. Era pensar que eles eram mais que animais (como chamados por alguns), e seriam mais que bandidos ou vassalos de gente rica.
No final,
ao descobrirem que eu chorava (pois o diretor foi falar com eles), um
grupo de meninas vieram me pedir desculpas. Ao me verem, algumas
choraram tb, pediram desculpas, que isso nao se repetiria. De uma
maneira estranha (e nao da maneira que eu queria), vi que realmente
fazia parte do universo daquelas crianças. Elas náo sabem o que
fazem. Três meninos tb vieram se desculpar. Eles estavam sem graça
e bem embasbacados com a situaçao toda.
Chorei. Me envergonhei vendo os quatro adultos daquela escola tentando me consolar, com muita pena da minha aparente fragilidade. Fiquei com muita vergonha de ter me deixado levar "facilmente" pela emoçao. Mas tem como deixar realmente a emoçao lá na porta quando se lida com seus ideais? Well, terei de figure it out.
Chorei. Me envergonhei vendo os quatro adultos daquela escola tentando me consolar, com muita pena da minha aparente fragilidade. Fiquei com muita vergonha de ter me deixado levar "facilmente" pela emoçao. Mas tem como deixar realmente a emoçao lá na porta quando se lida com seus ideais? Well, terei de figure it out.
Depois, ao verem meu rosto, a turma de projeto (que é fora desse mundo), me deu abraço coletivo, ficaram quietos, levaram a aula na mao deles, me deixaram assistindo a amabilidade deles (isso depois de ameaçar de porrada quem teria feito aquilo comigo, ehehe). Daí que me dei conta que será mesmo difícil de me tirar dessa vida.
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