Realmente complicado pra minha persona falar sobre o câncer da
minha mãe. Ele descobriu por volta de um ano que estava com câncer na faringe.
Daí veio a primeira reação: o drama. O segundo estágio: quimioterapia. Até
chegarmos, um ano depois, no estágio da radioterapia.
No primeiro estágio tudo era um pouco assustador: e agora
José? Realmente, a festa parecia ter acabado. Particularmente na minha família,
composta de pai, mãe e duas filhas, eu parecia a pessoa mais centrada, otimista
e desprovida de qualquer desespero. Por dentro, estava incontrolavelmente
assustada. No choque de mim mesma, passei a ser uma pessoa retraída. Retraída
no trabalho, não fazia tanta questão de sair com os amigos, passei a querer
encarar a minha vida social só comigo mesma. Engordei uns 9kg, não tive as boas conversas que me
fariam bem, não bebi os chopes eternos que me aliviariam a alma, não deixei ser gostada por ninguém.
Mamãe, papai e irmã contavam fielmente com a minha
habilidade discursiva pra convencer a todos de que essa tal doença era muito
mequetrefe e que não teríamos consequências negativas, afinal, tecnologia e
medicina andam juntas. Só que eu mesma precisava da minha fé. Vi e revi todos
os filmes de câncer, encontrei uma historinha em quadrinho que falava
justamente do rapaz que tinha a mãe com câncer, via e revia as cenas mais
dramáticas de todos os filmes sobre câncer, ouvia músicas tristes o tempo todo,
me alimentava de tudo que falasse sobre o assunto. No inicio era legal, mas
depois de um tempo, comecei a me sentir desconsolada. Descontei no chocolate. Descontei
em mim mesma.
Os ânimos mudavam dia pós dia. Todos ficavam mais e mais
exasperados, mais e mais passivo-agressivos. Eu, continuava a mesma por fora,
na calma de vidro, intocada aparentemente pelo desespero constante. Só que
ninguém sabia o que estava por vir... Um bem/mal chamado quimioterapia.
to be continued...
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