segunda-feira, 25 de junho de 2012

A volta de si


Essa coisa de viajar tem a peculiaridade de mexer com o que se tem dentro de si: as ideias, os pensamentos, as conjugações de verbo. Viajar tem dessas coisas: de se deixar levar fisicamente, psicologicamente e quando se percebe... Onde estou? Nem sei mais. Tem verde, tem água, tem amarelo, tem olhares, tudo diferente.
Ao reconhecer o que é “diferente” é onde se reconhece e se afirma o que sou: sou rio de janeiro, sou asfalto, cidade, cinza, músicas aleatórias, aluninhos fofos, ovomaltine do bobs, Araújo porto alegre, quarto preto e branco, vida lilás, mamãe gritando que a comida está na mesa, filtro da cozinha, os DVDs, livros e o quadro do Rhet beijando Scarlet Ohara. São as coisas que vejo ou faço quase todos os dias e, de repente, nada mais está lá. E eu, onde estou? Estou tentando saber justamente o que sou. Identidade móvel, uma “person to be” de carteirinha que pára, instantaneamente, de ser “sendo” para ser “ser”. Ser tudo aquilo que compõe a rotina da vida lilás aleatória.
De repente, apreciar o diferente virou apreciar o que se é: apreciar a falta que faz as coisas cotidianas, de como seria bom acordar na própria cama, tomar banho no chuveiro de sempre, sentir o sol entrando pela janela daquele jeitinho incômodo de todos os dias pela manhã. E aí que é engraçado: a gente vai, vai, vai... Se embrenha no mundo, caça rumos diversos e distantes para quando se está longe pensar no que se é quando está na rotina, no mundinho de sempre, no círculo apertado dos dias extasiantes ou insossos.
Já vi que esse negócio de ser humano tem mesmo dessas dicotomias: se movimentar pra encontrar o que está parado ou parar para alavancar os rumos. 

2 comentários:

Andréia Pires disse...

Que reflexão gostosa de ler, guria! Tenho acompanhado as tuas viagens pelas fotos aqui e ali no Facebook. E morro de inveja. Não dos lugares por onde passas, mas da tua coragem de estar na estrada com tanta frequência. Queria saber viajar assim como tu sabes. É uma inveja branca, viu? Adoro ler teus relatos dos caminhos recém vistos. Um abração, querida!

disse...

Déia, adoro conviver contigo nos espaços virtuais da vida. Pessoa maravilhosa, com produções maravilhosíssimas. Sinto feliz que aqui leia um pouco das minhas palavras incertas :)

beijos!