Entre lembranças do que se foi uma vida lilás e do que se é
de azul escuro com cinza, nasce essa humilde confahbulação de aniversário
aleatório. Vem daquela necessidade de se ser palavra, de se ser idéia, de ser
desautomatizada da vida. E a vida? Já me levou de jeito, e cada ano novo de
vida já chega empoeirado, com gosto de cof cof.
Tudo passa entrecortado na mente fantástica: as histórias
contadas na beira da cama pela avó, os colegas de escola admirando a timidez da
menina calada, escutar a conversa de adultos no final de semana, escrever
poesias para família de presente de aniversário... Sair da infância, ser jogada
em uma nova cidade, entrar na temida adolescência, descobrir o cinema com
amigos, descobrir a saudade em são Chico. Nem sei... de repente uma definição:
sou lilás. De repente uma frase: ai, minha vida! De repente eu era eu, e já não
tinha muita clareza de como fui parar aqui, dentro de mim.
Daquela menina de lá longe, ainda conservo a mania de roer
as unhas e de realmente não me importar muito com o público pensante a minha
volta. Vou com as minhas vontades e voluntariosa que sou, sigo sutilmente a
cegueira do se ser/sendo. E pensando... Pensando... Pensando: poesia, porque me
abandonaste?
Creio que tudo que queira dizer é: não me culpem porque
continuo tão a mesma aqui dentro. 27 anos não são ainda suficientes para te
fazer não ser aquilo que te incomoda demais. Pensei que fosse. Pensei que
seria. Agora penso que não quero lutar com o que deveria ter sido: melhor
ser/sendo sutilmente na vida voluntariosa vigorosamente voraz.