quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A viagem de si

A inconstância das coisas vividas às vezes me surpreende. Como pode uma viagem mudar o pedaço do que se é. Eu sei que a cada milímetro de vida o acaso (ou seja lá como queira chamar isso), pode pender para um lado, pender para o outro, ou deixar de pender. Com isso, mais um tempo de ausência de blog eu pensei, todo dia, num post digno para uma 'volta'. A questão é que tinham tantas pequenas coisas, sem contar as grandes que se tornaram pequenas. E deste modo houve um inundação de palavras dentro da mente que vos fala. Os diversos reencontros, os desencontros (propositais ou não), o sol e a chuva... Tudo posto ali, como para brincar de fazer ocasiões boas ou não, por vezes ótimas.

Cada vez mais são chico é minha cidade de turismo. E refleti que seria impossível para mim viver lá. São Chico existe numa realidade paralela, realidade de meus 15 anos, quando pouco se sabe de tudo e não se pode sair por aí a descobrir as coisas sem o devido consentimento parental. São Chico ficou lá, com todos seus personagens que voltam a mim. Ou seria eu que os assombro... Assim me senti, uma verdadeira assombração, quando meu amigo de tempos não podia ir numa reunião de amigos que me incluia porque a namorada não permitia (pois eu lá estaria). Não sabia ela, que como toda assombração, essa presença alheia atrai curiosidade... E que um deslize não estaria nunca nas mãos dela prever. As pessoas pensam em casar, planejam quando os filhos vêm, enquanto eu vou pensando no meu primeiro roteiro Europeu. Alguns tentam fugir do mesmo, mas cercado daquilo sabem que se não se encaixarem a moda da cidade logo serão apontados como 'fora' do padrão. Nem consigo expressar o prazer de SER fora do padrão. Aí encontrei quem eu era, a que não é o que se espera. Multiplicidade de ser em si, e só. Admiração ao me verem só. Eu pertenço a mim, e ninguém me pertence. Prefiro assim, por opção. Explicar isto seria inútil, então melhor deixar que sintam pena da minha solidão, ou admiração e até inveja por não poderem fazer o mesmo.

Em Rio Grande, indo de ônibus, ajudou num processo de pensar o destino, criar hipóteses, de ir chegando aos poucos, como se o corpo acompanhasse a cabeça na assimilação de onde se ia. Cheguei em rio grande corpo e alma. Contando com poucos dias, quis a intensidade de tudo. Me desliguei de outras cidades, vivi rio grande como pude. Frustração. Nem pra rever pessoas me serve... É tudo tão complicado. Mas daí tirei o prazer de curtir,como turista, o que me tinha a oferecer a cidade. E aí a resolução de férias: sou turista. Reencontros, sim, inevitáveis. Espera de outros reencontros, sim, inevitável. A areia fina que enxarca a cidade ficou nos sapatos, tive de lavar bem cada sola pra não ter de herança isto ainda agora. Em rio grande descobri que as pessoas que gostamos continuamos gostamos, e quando revemos gostamos mais. As pessoas que nunca fomos muito seguras se gostávamos sinceramente ou não fica na certeza de que não gostamos lá isso tudo mesmo, o suficiente para aturar. Tem pessoas que basta um abraço, sem muito diálogo para se gostar mais. Outras, com muito diálogoo se descobre o potencial de novos personagens, diferentes daqueles de anos atrás na faculdade. Chimas no canelete,andadelas por aqui e ali, novas configurações familiares e... Amor. Como no conto de Clarisse que li e analisei tanto nas aulas de teoria literária I na furg, encontrei a epifania. Caí em mim, algo tinha mudado... Parece que vi algo que se equiparava a um cego mascando chiclete pra Ana, e fui para meu próprio jardim botânico ter comigo uma revelação. Resolvi apagar a flama da viagem indo um dia antes para Porto Alegre. Tinha feito mais ou menos tudo que planejado... Dali já não queria nem o pó.

Porto alegre me senti a verdadeira turista. Sensação de coisa nova, de um ar de cidade nova. Reencontros novos e surpreendentes. Em Danilo, meu anfitrião, enxerguei ambição boa, amizade com gosto de jujuba. Conheci alguns de seus amigos, me diverti com a simpatia deles. Vimos filme, saimos a comer algo e me dei conta que com uma tarde-noite em porto alegre tinha feito mais coisas que em dias em outras cidade. É que depende com quem se tá. E estava bem acompanhada. Outro dia partia eu para o aeroporto lotado de fãs de preto de banda de rock pesado cujo nome resolvi ignorar. Resolvi ignorar muitas coisas no earoporto. Resolvi esperar pelo meu avião em paz, finalmente, depois de um lanche nada saudável numa famosa rede americana de fast food. Esperei ansiosa por partir para o próximo momento. O momento da tranquilidade.

Cheguei em Curitiba e chovia muito. Mas tudo compensava reencontrar Fabíola e Felipe novamente. Os noivos, que conheci no Canadá, me presentearam com o prazer de estar no casamento deles. E estive... E me deliciei em quase perene silêncio,sendo apresentada aqui, ali e acolá como a amiga do canada, pensando na vida boa que os dois estavam fadados a ter vivendo juntos. Eta casal adorável. E olha que não sou de ser simpática a qualquer casal. Mas aquele casal... Eles têm algo, algo que só NÃO pode ser explicado. É de segredo, e me faz acreditar em carma, e que eles foram recompensados por serem tão bons em vidas passadas. Passei a me sentir recompensada também com a amizade deles. De tudo de vibrante no Canadá, eles são das melhores lembranças. Me deram dias de turistas, aqui e acolá, em vários pontos turísticos, alguns que visitei 13 anos antes. Adorei. Adoro Curitiba, declarei amor a cidade... Apaixonei perdidamente e ao voltar para o Rio aquela chateação de quem deixa a pessoa amada longe me acompanhou. Mas não voltei antes ainda de tormar um suco no aeoporto com Felipe, comer pão de queijo, jogar bom papo fora e ter certeza que meus ex-vizinhos de canadá são mesmo pessoas dotadas de gentileza.

E Rio, aqui estou... Se sirva de mim. Até quando, mistério.

3 comentários:

Andréia Pires disse...

Fah! E tu passou por aqui e nem te vi! :( Fico encantada com essa tua vida de movimento, de viagem.Estou naquele grupo dos que admiram. Um beijão!

Eduardo Trindade disse...

"Como pode uma viagem mudar o pedaço do que se é." Verdadeiro e encantador, guardarei para mim esta frase!
Fico feli que tenhas tido dias bonitos na minha terra. E bem-vinda de volta!
Abraços!

オテモヤン disse...
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