domingo, 14 de junho de 2020

15 anos depois

Quinze anos depois do início desse blog, o encontrei por acaso. Achava que já o haviam suprimido de alguma forma, que ele não existia mais. Minha surpresa foi grande ao pensar nele enquanto escrevia minha relação com a escrita e me dar conta de que ele estava aqui, intacto

O ano é 2020, uma epidemia toma conta do mundo e nos obriga a ficar em casa. Ironicamente  tivemos que nos "desautomatizar", palavra que muito usei aqui por anos e anos a fio. Parei de escrever aqui porque ele parou no tempo de fato: um roxo berrante, um template que não tem nada a ver comigo hoje. Nem o "ai, minha vida" faz mais sentido. Hoje tenho outras expressões cunhadas por mim e que meus amigos reconhecem de longe, como "situation".

Hoje sou professora estabelecida. Continuo dando aula na escola pública com muito carinho e também continuo dando aulas particulares de inglês, além de francês agora. Hoje sou casada com um homem bastante interessante e peculiar. Hoje moro no Rio de Janeiro e já nomeei essa cidade como a minha morada permanente.

No primeiro de janeiro desse ano retornava da França depois de uma estadia de um ano e meio. Um ano e meio de vida européia que certamente mudou e adicionou bastante coisa boa à minha existência. Estudei na Sorbonne, fiz amizade com geral, falei francês pra caramba... Me senti em casa, mesmo não estando em casa. Descobri que realmente tenho essa habilidade de abrir a minha tenda e fazer morada em qualquer canto.

Voltei nesse blog e resolvi escrever para deixar essa lembrança para Fabíola do futuro. Ela vai gostar de ver esse texto aqui. Eu adoraria que eu tivesse escrito alguma coisa todo o ano, qualquer coisa. Ia ficar aqui, nesse meu jardim secreto.

Ah, e voltei por um motivo muito especial: ao fazer a oficina virtual de escrita criativa da Andréia (que me acompanhou boa parte do tempo da existência desse blog e migrou comigo para outras esferas de redes sociais), me lembrei que isso existiu. Existiu por anos.

Fiquei rindo de muitos posts que não entendi o que queria dizer. Ri dos erros de português, a maioria causada por uma digitação muito rápida (eu escrevo correndo correndo). Fiquei rindo e saudosista desse tempo do passado, da minha inocência, da minha transformação em mulher adulta aqui documentada.

Agora eu SOU uma mulher adulta, farei 35 anos esse ano. Quando comecei esse blog, em 2005 tinha 19 anos e iria fazer 20 anos naquele setembro. Uau, que caminhada. A motivação daquele blog foi minha mudança de cidade e universidade (na época migrava da FURG em Rio Grande para a UFRJ no Rio de Janeiro).

Bem, acho que vou ficar por aqui. Já é tarde, tenho que rever minha aula online de amanhã. Além disso Martin termina de estudar chinês em breve e iremos descansar em paz. Provavelmente irei ficar olhando o Instagram por uma meia hora e depois irei colocar o celular debaixo do travesseiro e ir dormir pensando nesse blog, nesse texto, nesse reencontro.

Então até logo, eu espero. Bom te rever aqui.

sábado, 7 de maio de 2016

Os anos se tornam décadas. As décadas reforçam os anos. A espera em cada ano continua,  e continuam os sonhos.  Podem apressar o curso do mar, dos rios, do corredor, mas não hão de apressar esse curso do amor.
Feliz aniversário, my dearest

sábado, 30 de abril de 2016

Mudança dos ventos

A vida mudou. 2016. Tantas coisas emboladas dentro de si, tantos sentimentos desajeitados sendo demonstrados. Pensando bem, a vida não mudou tanto assim.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O misterioso mundo dela

Todo ano, nesta data, passo por aqui lembrando para mim mesma e para o cosmos que meu caminho se cruzou com alguém que chamaria de minha alma irmã. Não gêmea, porque somo essencialmente diferentes, mas irmãs, porque comungamos de uma compreensão mútua e muito afeto.

Sempre quis ter um irmão, desde pequenininha. Quando a minha irmã biológica nasceu, para mim tinha nascido um fabuloso mistério que haveria de descobrir pouco a pouco. No entanto, o mundo me ensinou a ver que o que está no sangue nem sempre está na alma. E, anos e anos depois de ter vindo para este mundo fui descobrir o misterioso mundo dela, da minha irmã de alma, Lív Mary.

Sem querer pensamos nos mesmos projetos e almejamos uns objetivos bem parecidos, como o de ser fluente em francês (com a diferença dela estar uns bons passos a frente). Também somos apaixonadas por literatura, cinema e divagações da vida moderna.

Cada momento de desafio e dificuldade foi para provar que dentro desse misterioso mundo de Lív Mary há espaço para muito superação. É pensar que não teria como passar por aquilo, até que se passa. Até que se torna mais forte e mais completa.

Certamente o próximo ciclo de vida nos reserva boas surpresas e, quem sabe, mais um tipo de irmandade.


Feliz aniversário, para a melhor irmã do mundo!

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Após a neblina

A ponte Rio-Niterói coberta de neblina, cercada de nuvens, com pouco a se ver além. Nesta ponte passei para retornar ao palco do evento da quinta-feira passada. Queria que o engarrafamento viesse, que o tempo passasse, não precisava chegar na hora. Queria me esconder e passar desapercebida pelos corredores da escola. Mas ao chegar na escola, havia uma conspiração estranha, de um cosmos de bom humor que decidiu me fazer pensar sobre as questões da vida de uma forma diferente.

Ao chegar, imediatamente, uma aluna do 1o ano me entrega umas florzinhas graciosas (que certamente ela pegou no quintal de alguém - algo que eu mesma fazia para minhas professoras quando era pequena). A surpresa e a lembrança me inundaram e, com meu melhor sorriso, subi. A primeira turma, 1601, se acomodava quase silenciosamente. Comecei a aula... Senti uma serenidade. Um aluno não parava de falar, outra me mandava coraçãozinho, outro dizia ter me visto na rua, todos responderam oralmente em inglês o que estavam vestindo. Esse clima se estendeu ao dia: uns me paravam para me perguntar das faltas, dos trabalhos, outros pra dizer que meu cabelo era o máximo, outros pra dizer que eu era muito bonita. Assim, do nada, como se beleza brotasse da terra, como se beleza fosse um atributo daquele dia.

Nos últimos tempos, numa turma deveras complicada, 1701, eles se comportaram bem, muitos faltaram (o que ajudou no comportamento). Conversei com alguns, rimos, corrigimos o trabalho, compartilhamos boas horas qualitativas. Ao sair da escola, encontrei alguns alunos do turno da tarde, e um deles era da fatídica turma. Ele pediu desculpas, disse que não era pra ser assim, que não seria assim. Me deu sua palavra, me deu um grande abraço. No caminho encontrei a arretada da Joice, uma aluna da turma de projeto que fez questão de me abraçar e pedir que subisse pra ficar com eles na tarde.

Bem que deu vontade.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

breakdown


Era pra ser uma quinta-feira normal. Até tomei um picolé depois do almoço na escola (que estava delicioso). Achei que passaria incólume pela tarde de aulas. Tinha três turmas: 1702, 1602 e uma turma de projeto (realfa). Como professora de escola municipal carioca sonhadora, ando meio apagadinha nas minhas aspiraçoes. Mas tento nao passar essa impressao para os alunos. No entanto, hoje foi o dia que, pela primeira vez em 3 anos, perdi o controle de mim, me escapei pelos lados.

Estava na turma da 1602, quando uma série de acontecimentos me levaram para o final de dois tempos na turma entregando os livros de inglês. Era algo simples, descomplicado, a aula estava no fim. A turma tem um espírito bastante presente, mas sao alunos, no geral, que respeitam bastante e escutam o que se tem a dizer. Gosto muito deles. Já os considerei a minha melhor turma. Semana passada fizemos um trabalho juntos que foi bastante proveitoso. Era nessa turma que esperava terminar bem o dia para depois ir para a turma que, talvez, pudesse me dar problemas (a de projeto).

Um momento, uma angústia, uma raiva, um tumulto. Tudo junto. Eles nao me escutavam, eles eram maioria. Eu tentando, do meu jeito, fazer aquilo dar certo. Nao aceitei que pudessem ser daquele jeito. Explodi. Gritei, joguei os CDS dos livros por cima das carteiras, gritei para todos sairem. Façam o que bem entenderem. Podem descer. Podem sair. Eles ficaram sem graças. Uns sairam de imediato. Outros ficaram cabreros. Um dos alunos, ao me ver sair, disse que era pra ficar tranquila, calma.

Subi as escadas para ir na outra turma. Desabei. Em lágrimas. Chorei, chorei, chorei. Enxuguei as lágrimas, fui na turma, deixei minhas coisas (ainda era um pouco cedo e eles ainda estavam com a professora deles). Desci as escadas, fui na secretaria, peguei água, lavei o rosto. Nao parava de chorar. Que choro era esse? Era querer tanto e nao pode fazer melhor. Era pensar que eles eram mais que animais (como chamados por alguns), e seriam mais que bandidos ou vassalos de gente rica.

No final, ao descobrirem que eu chorava (pois o diretor foi falar com eles), um grupo de meninas vieram me pedir desculpas. Ao me verem, algumas choraram tb, pediram desculpas, que isso nao se repetiria. De uma maneira estranha (e nao da maneira que eu queria), vi que realmente fazia parte do universo daquelas crianças. Elas náo sabem o que fazem. Três meninos tb vieram se desculpar. Eles estavam sem graça e bem embasbacados com a situaçao toda.

Chorei. Me envergonhei vendo os quatro adultos daquela escola tentando me consolar, com muita pena da minha aparente fragilidade. Fiquei com muita vergonha de ter me deixado levar "facilmente" pela emoçao. Mas tem como deixar realmente a emoçao lá na porta quando se lida com seus ideais? Well, terei de figure it out. 

Depois, ao verem meu rosto, a turma de projeto (que é fora desse mundo), me deu abraço coletivo, ficaram quietos, levaram a aula na mao deles, me deixaram assistindo a amabilidade deles (isso depois de ameaçar de porrada quem teria feito aquilo comigo, ehehe). Daí que me dei conta que será mesmo difícil de me tirar dessa vida.



quinta-feira, 22 de maio de 2014

don't leave me high, don't leave dry


O sorriso de Ale

Ao acordar e saber da notícia meu pai dizia: é uma tragédia.

Em São Paulo, minha prima mineira sofre. Ela é a mãe de um menino fantástico de 14 anos que sofreu um terrível acidente doméstico. O menino é meu primo de segundo grau. Educado do jeito mineiro, é daqueles mais educados do mundo, adora contar uma história e, sempre senti, é aquele que tinha certa identificação cultural comigo. Ele se encontra em coma conduzido num hospital em São Paulo.

Ao visita-los no final do ano passado (graças a uma amiga, Thaes, que me avisou que iria pra São Paulo e me convidou pra ir com ela), foi o menino que fez as honras da casa: me recepcionou junto com a minha outra prima grávida, botou meu café da manhã, lanche da tarde, procurou filmes para vermos juntos e dividiu comigo suas inúmeras histórias. Uma criança extremamente meiga e carinhosa (assim como a irmã), e cheia de entusiasmo em relação a família e ao futuro.

Hoje, 22 de maio, ao receber a notícia do estado do menino nossa casa parou. Eu, por mim mesma, parei. Tinha de ir na assembléia da prefeitura, buscar um livro de testes em inglês e pesquisar carro com meu pai na rua. Seria um dia agitatinho. Seria... Minha mãe quer cancelar o pequeno aniversário de minha irmã no sábado, meu pai desistiu do carro e não se sente bem. Eu, em pedaços, me desconectei da internet e estou a pensar, cá com meus botões, se é possível um pequeno belo milagre acontecer.

Faz muito tempo que não sinto tanta tristeza junta. Com o câncer de mamãe aprendi a dosar tristeza na rotina. Não estava preparada pra sentir essa invasão bárbara e cruel. O que me faz sentir triste em demasiado são as pequenas coisas: ele fez aniversário no meio de maio e, apesar de sentir vontade de mandar uma bela mensagem de aniversário, mandei um simples “feliz aniversário”, pensando em condensar pessoalmente todas as palavras de carinho logo ali, em julho. Triste porque apesar de amar muito minha família, encontro muita dificuldade em manter contato, visitá-los. Parece, pra eles, que sou muito indiferente e só penso na minha vida cultural e viagens. No entanto, cá com meus botões, penso neles e estava mesmo bolando planos de aproximar mais e mais de todos os lados da família (tanto de mamãe, quanto de papai). Tentando aproveitar o máximo da minha vida, às vezes, deixo de aproveitar o máximo da minha vida junto de pessoas da minha vida.

Estou mesmo na maior da esperança e expectativa que esse mocinho falante volte para gente. Que ele venha me contar MUITAS histórias, vou escutar todas pacientemente. Vou fazer mais esforço para visita-los, para abraça-los, para mostrar o imenso amor que tenho e que não cabe dentro de mim. Tanto que agora ele transborda em forma de lágrimas. Muitas lágrimas. Elas saem naturalmente, sem nenhum esforço, enquanto penso, enquanto escrevo, enquanto espero aquele tagarelinha nos surpreender com seu melhor sorriso.